Olá, leitores! Aqui é a poetisa Tatyana Casarino e hoje eu trago mais um texto escrito pelo meu amigo escritor Mateus Ernani Heinzmann Bulow que colabora gentilmente com o Recanto da Escritora. Vocês já assistiram ao filme A Princesa e o Robô da Turma da Mônica? Se vocês passaram a infância na década de 80 ou 90, certamente vocês conhecem o filme citado. Eu nasci em 1992 e sou uma grande fã da Turma da Mônica! :)
Quem não se lembra do Robô mais fofo de todos os tempos que encara uma aventura espacial em busca de um coração? A postagem de hoje é um divertido mergulho nessa célebre história que hoje possui o status de "Cult" entre a galera.
Trata-se de um enredo aparentemente simples, mas com uma estrutura coesa e uma Trilha Sonora marcante. Além do mais, afirma-se que este filme possui certo magnetismo que ultrapassa gerações... Será que nós, os espectadores, também fomos atingidos por um raio de luz desgarrado de uma distante estrela Pulsar? Para descobrir a resposta, vale a pena conferir o texto escrito pelo Mateus Ernani Heinzmann Bulow.
Turma da Mônica – A Princesa e
o Robô. – Análise.
Nos confins do universo foram descobertas recentemente misteriosas
estrelas pulsantes... Batizadas pelos astrônomos de “Pulsar”, elas não brilham
como outras estrelas: elas pulsam como um grande coração de luz, batendo sem
parar. Diz a lenda que, às vezes, um raio de luz desgarrado de uma distante
estrela pulsar pode atingir alguém. E esse alguém nunca mais será o mesmo...
Com essa breve narração começa o segundo filme
animado produzido pelos estúdios Maurício de Souza, e talvez um dos maiores
marcos do cinema nacional. Produzido em 1983 e lançado no ano seguinte, A
Princesa e o Robô não repetiu nos cinemas o êxito de seu antecessor, As
Aventuras da Turma da Mônica, em parte devido à crise econômica pela qual o
Brasil passava na época. No entanto, o filme conta hoje com status de Cult, e
se destaca em vários aspectos, como o fato de ter sido o primeiro filme da
Turma da Mônica a contar uma história contínua (algo que se repetiria apenas em
2007 com “Uma Aventura no Tempo”), e ainda estabelece uma trama com personagens
originais.
Apesar do desempenho decepcionante nos cinemas, essa
produção é lembrada com muito carinho não apenas pelos fãs da Turma da Mônica
como também por boa parte dos que foram crianças nas décadas de 80 e 90. Muitos
ainda se lembram bem do “Robozinho” e do “Lorde Coelhão”, bem como do “Zoiúdo”,
algo curioso para um grupo de personagens com apenas uma aparição na telona.
Não à toa, A Princesa e o Robô era uma das fitas cassete mais alugadas na época
do VHS.
Após ser literalmente empacotado por Lorde Coelhão, o
Robozinho cai na terra e é encontrado pela Mônica e sua turma, e estes decidem
ajudá-lo a encontrar uma estrela pulsar, que lhe servirá de coração. Com a
ajuda de uma nave espacial adquirida em outra aventura, mais precisamente na
última história do filme anterior da Turma da Mônica, eles estão prontos para
cruzar o espaço, em busca do brilho de um pulsar. O filme poder ser bem velho e
sua animação ultrapassada, mas vale a pena fazer uma análise de pontos
positivos e negativos. Aproveitem a passagem e subam na nave!
Pontos positivos:
1 – Conceitos científicos
sendo utilizados em uma história infantil.
Os pulsares foram descobertos em 1974 por uma
astrônoma britânica chamada Jocelyn Bell Burnell, e são estrelas de nêutrons com
densidade elevada, resultante das explosões de outras estrelas, em um fenômeno
conhecido como supernova. Obviamente, isto não tem nada a ver com o conceito
utilizado no filme, porém não deixa de ser curioso como a nomenclatura dessas
estrelas serviu de inspiração para a história. Eu consigo perfeitamente
imaginar algum dos roteirista ou talvez o próprio Maurício de Souza lendo sobre
pulsares em alguma revista científica e pensando “isso daria uma bela aventura”.
E no fim das contas, não são justamente as ideias mais simples a resultar nas
melhores histórias?
2 – Equilíbrio entre diversos
temas.
A inspiração óbvia do filme foi a saga de Guerra nas
Estrelas, e alguns personagens já haviam aparecido na última história do filme
anterior, denominada “O Império Empacota”. Aqui os roteiristas parecem estar
mais à vontade, pois temos uma boa distribuição de humor, cenas de luta,
romance, e até mesmo um leve clima de espionagem em algumas cenas, nesse caso
nas aparições do Zoiúdo.
É claro que por se tratar de uma história voltada às
crianças, a violência é quase nula, utilizada essencialmente como um elemento
humorístico: o que dizer dos coelhos que se esbofeteiam ao ponto de
literalmente se enterrarem? Ou do “chá explosivo” oferecido pelo Lorde Coelhão
ao seu adversário? E pensar que hoje muitas mães se escandalizariam com a cena
onde o Robozinho ameaça dar um tiro na própria cabeça, usando um revólver falso...
O romance, por sua vez, é claramente a mola
propulsora da trama, e é interessante ver tanto o Robozinho como a princesa
Mimi fazendo de tudo para ambos serem felizes: enquanto ele explora o universo
ao lado da Turminha, ela tenta alertar seu amado a todo custo das armadilhas
preparadas pelo Lorde Coelhão e seus seguidores, sem sucesso. Em uma franquia
conhecida por criar diversas personagens femininas ativas e determinadas, seria
de se esperar que Mimi tentasse fazer o possível para auxiliar os heróis na
jornada. Ironicamente, consigo imaginar hoje as feministas revoltadas com a
cena da competição do início do filme, por supostamente transformar uma mulher
em um prêmio...
3 – Lorde Coelhão e sua trupe.
É simplesmente impossível falar nesse filme sem falar
no vilão, praticamente o melhor personagem. Rancoroso, malandro e trapaceiro, o
projeto nanico e dentuço de Darth Vader consegue ser um vilão ameaçador e ao
mesmo tempo engraçado, assumindo boa parte das cenas mais divertidas. Um dos
destaques está na cena onde ele lê as leis do planeta: o ângulo de visão mostra
as tais “leis”, que na verdade não passam de um amontoado de jogos da velha e
rabiscos, em um claro reflexo de sua personalidade desonesta.
Apesar de contar com um séquito de robôs fiéis à sua
disposição e uma enorme nave de combate, o vilão prefere claramente utilizar a
lábia e a manipulação ao seu favor, sempre bajulando o Rei de Cenourano a fim
de não levantar suspeitas, ou mesmo apelando aos sentimentos de suas vítimas. Ele
chega a utilizar uma foto da Mônica com o Robozinho, para convencer Mimi de que
seu amado havia se esquecido dela. Mesmo os seus capangas são dignos de nota:
os robôs sob seu comando possuem um design bem interessante, bem como a “nave
mãe” com dentes afiados e um olhar ameaçador.
E como estamos falando em capangas, não podemos nos
esquecer do Zoiúdo, o espião pessoal do Lorde Coelhão. O bicho parecido com uma
mosca verde é o responsável por boa parte das cenas de humor, e atua como
ligação entre os dois núcleos principais da narrativa, sendo estes a Turma
viajando pelo espaço e a base de seu mestre no planeta Cenourano. Curiosamente
seu dublador não foi creditado, embora sua voz seja claramente similar ao
carteiro Jaiminho do Chaves.
4 – Um universo simplesmente
lindo.
Um dos aspectos que chamam a atenção até hoje está na
qualidade dos cenários e das imagens do espaço. Apesar de destoarem muito do
traço dos personagens em movimento (tem uma cena onde um coelho enorme parece
estar pisando no ar), os cenários fornecem boa parte do clima de fantasia que o
filme precisa. Enquanto o planeta Cenourano possui diversos tons de laranja e
cenouras espalhadas por todos os lados (em um dos corredores dá pra ver até um
extintor de incêndio em formato de cenoura), os cenários vistos do espaço
passam toda a imensidão necessária para espelhar o tamanho formidável da
jornada até a pulsar.
De qualquer forma, nenhum dos cenários consegue ser
tão impressionante e causar tantas sensações distintas quanto a própria estrela
pulsar. As florestas, vulcões e montanhas achatadas encontradas pela Turminha
em sua chegada à estranha estrela dão lugar a uma caverna cheia de cristais,
onde o “coração” repousa enquanto emana uma luz majestosa e intimidante, algo
que não pode ser explicado, mas se trata do objetivo a ser alcançado.
5 – As músicas são incríveis.
Boa parte do clima de diversas cenas é cortesia da
trilha sonora. Temos músicas para todos os gostos, algumas delas feitas para
alguns personagens: enquanto o Zoiúdo conta com uma música que reflete o
caráter sigiloso de sua missão, Lorde Coelhão utiliza um trinado ligeiro
similar aos filmes antigos do Drácula, mostrando sua personalidade maligna. A
Mimi, por sua vez, conta com uma trilha de piano, alegre e jovial, que mais
tarde aparece no início da música “Pulsar”.
Três das músicas utilizadas possuem letra, sendo elas
“Bate-que-Bate”, “Tum-Tum” e “Pulsar”. Vez ou outra é possível encontrar alguém
cantarolando uma ou outra delas, em especial o trecho de Tum-Tum onde se ouve “vamos
subindo no espaço procurar/ lá longe no infinito/ o brilho de um pulsar”. A
música Pulsar também é outra bem lembrada, em especial pelos casais apaixonados
que estão “procurando um coração, que te complete com calor”...
1 – Senta que lá vem
história...
Após a abertura do filme, onde o Robozinho é atingido
pelo raio da pulsar, nós somos transportados ao planeta terra, onde a Turminha
o encontra pela primeira vez. Como forma de resumir sua história, o simpático
autômato utiliza uma espécie de “televisão” inserida em sua cintura, mostrando
toda a competição e sua chegada ao nosso planetinha, após cair em uma armadilha
do Lorde Coelhão. O recurso de flashback não é propriamente um problema, no
entanto essa passagem ocupa nada menos que um terço do filme.
E a demora em finalmente “engrenar” a história não se
limita a este trecho: como todos estão inicialmente receosos de viajar ao
espaço, a Turminha somente decide ajudar após a insistência do Anjinho e do
Robozinho, e depois de consertarem a espaçonave adquirida na aventura anterior.
O trecho onde eles fazem os reparos da nave é um dos mais divertidos do filme,
porém ele ocupa mais um tempinho, e a viagem finalmente começa aos 45 minutos
da produção (isso pede muito por uma piada envolvendo futebol...). Isso tudo em
um filme com uma hora e meia de duração!
2 – Um filme da Turma da
Mônica... Ou quase.
A lista de personagens oficiais da Turminha presentes
no filme incluem os quatro protagonistas tradicionais, ou seja, Mônica,
Cebolinha, Cascão e Magali, além do Anjinho, o Bidu e o Franjinha. No entanto,
é curioso notar como os protagonistas estão apagados, afinal o foco narrativo
nunca deixa de acompanhar os personagens do planeta Cenourano. Essa sensação de
coadjuvantes dentro da própria história só aumenta da metade em diante, pois até
eles finalmente alcançarem a pulsar, vemos muito mais o Lorde Coelhão, a Mimi e
o Rei de Cenourano em cena.
Apesar do pouco espaço para a Turminha, eles possuem
bons momentos espalhados pelo filme: os maiores destaques vão para o Cascão
guiando a nave em uma chuva de meteoros causada pelos capangas do vilão, e para
a Mônica salvando o Cebolinha de um monstro. Tal monstro, similar a uma mistura
de um gorila com um porco, ficou bem feito e botava medo em quem era guri nos
anos 90...
3 – Não houve lançamento em
DVD.
Talvez este seja o aspecto mais chamativo quanto à
produção hoje: apesar de diversos apelos de fãs, o filme ainda não teve um
lançamento em DVD, ao menos não um lançamento oficial pelos estúdios Maurício
de Souza. Não à toa, diversos sites especializados em filmes brasileiros se
referem erroneamente ao filme como uma produção “perdida” ou “esquecida” do
cinema nacional.
Por sorte, a animação pode ser encontrada facilmente
através de torrents na internet e até mesmo na íntegra pelo Youtube com a
dublagem original. Vale lembrar que tais vídeos muitas vezes estão disponíveis
em qualidade duvidosa, seja na imagem ou no som, mas vale a pena garimpar por
esse tesouro, nem que seja para mostrar às crianças mais novas as aventuras e
peripécias de um robô em busca de um coração.
Mateus Ernani Heinzmann Bulow
Para quem quiser conferir um pouco mais acerca da Trilha Sonora incrível deste filme:
*Pulsar
*Tum-Tum
*Para quem quiser conferir o filme, o qual está disponível no YouTube:
Para quem quiser conferir mais textos escritos por Mateus, é só clicar na TAG (marcador ao lado direito do blogue):
Mateus Ernani Heinzmann Bulow
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