O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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terça-feira, 19 de julho de 2016

Louca e lúcida



Eu busco consolo nos seus braços
quando as luzes da rua são apagadas.
A noite é bem fria e o seu vinho é quente,
eles falam línguas estranhas e eu estou demente.

A angústia é forte e o dia está bonito,
eu recebi injúrias e minh'alma está revoltada.
Eu volto para o meu lar muito magoada,
meu silêncio e o meu sorriso escondem o meu grito.

Eu tiro os meus sapatos com uma estranha sensação
as lágrimas limpam a minha face naturalmente.
Estou sem maquiagem e sem máscaras de proteção,
despida diante da dor que escondo do mundo belamente.

Eu beijo os lábios rosados da dor,
eu estou apaixonada pelo martírio dela.
A dor indaga questões tão belas
que o meu coração exala agonia e amor.

Somente a dor me conhece,
ela é a minha melhor amiga,
minha mãe, meu amor, minha filha.
O seu bálsamo me ama e me enlouquece.

Existirá justiça? Existirá pureza?
Existirá amor? Existirá ternura?
Existirá verdade? Existirá beleza?
Existirá plenitude? Existirá vida pura?

Todas essas questões me seduzem,
me entorpecem, me enlouquecem,
me embelezam, me martirizam.
Da poesia, a dor é o rito.

Os seres humanos falam línguas estranhas,
e não há uma viva alma que me compreenda.
Somente a dor me compreende na sua tenda
quando a poesia de noite proclama.

Hoje foi mais um dia de decepção,
eles querem matar os meus ideais pouco a pouco.
Mas, nos braços da dor, há um tesouro
que consola com poesia o meu coração.

Minha voz jovem não é ouvida,
minha essência pura é escarnecida.
Duvidam da minha força e da justiça,
duvidam da minha coragem límpida.

Dizem que os românticos são tolos,
e que os jovens não são sábios.
Dizem que os justiceiros são tontos
e que os bondosos são engraçados.

Talvez eu seja tola, tonta e engraçada,
talvez eu seja jovem demais,
talvez eu seja uma romântica incapaz,
talvez eu não seja esperta e sábia.

A dor, no entanto, me abraça com ternura,
beijando-me com os seus lábios de mel.
E eu fico, mais uma vez, louca e lúcida.
Poeticamente, eu sirvo o seu quartel.

A dor me abraça, me ama, me envolve,
seus lábios doces estão envenenados.
Oh! Estamos todos entorpecidos e apaixonados
pela ilusão e pelo medo da morte.

A minha dor revelou a sua face,
e eu fico diante de um cadavérico crânio,
dançando, entre lágrimas, esse tango profano,
que violentamente me ama e me invade.

Existirá justiça? Existirá pureza?
Existirá amor? Existirá ternura?
Existirá verdade? Existirá beleza?
Existirá plenitude? Existirá vida pura?

A sombra em mim é triste e bela,
triste como a amarga foice,
bela como a estrelada noite.
A dor é minha e eu sou dela.

Docemente eterno é o meu romanticídio,
paquero a morte e o seu brilho,
beijo a sua boca, canto o sue martírio,
mas o nosso amor nunca é consumado.

Eis que sempre supero e vivo,
transformo o nosso amor em versos
e esse impulso de morte em luz no espírito.
Em Eros e Thanatos*, estamos imersos.

Sensação imensa de solidão
quando um jovem caminha pela sabedoria.
Vemos que o ego humano anda muito saliente,
e o mundo passa a trazer tristeza e decepção.

Romanticídio: a morte por um ideal.
Quando o romantismo em nós grita
e até mesmo a crença em Deus nos martiriza.
Será este impulso doce ou cruel?

Talvez Romeu e Julieta não sejam tão lindos,
talvez eles sejam tão loucos quanto um terrorista.
Em nome do amor e Deus, não se mata,
porque Deus é amor e amor é vida.

Então, em nome do amor, eu suporto tudo:
as dores, as decepções, as calúnias e os preconceitos,
porque a minha humildade de viver é linda
e é bem maior do que a vaidade que escraviza.

O amor pela morte concretizar-se-á naturalmente
quando eu for bem velha e bem mais sábia.
A nossa paixão será consumada sutilmente
quando, com sorriso no rosto, ela me levará para casa.

Poesia escrita por Taty Casarino.


*Eros e Thanatos representam a nossa pulsão de vida e de morte respectivamente, sendo muito usados em alguns estudos da ciência psíquica, especificamente a Psicanálise e também no misticismo arquetípico (fora da ciência tradicional).



Mensagem de Taty Casarino:

 Apesar da atmosfera gótica e melancólica da poesia, a mensagem é de vida e perseverança. Muitas vezes, diante das decepções da vida mundana, o ser humano mais sensível e sentimental pensa em fugas, vícios e até mesmo no mais assombroso dos crimes espirituais -- o suicídio. Porém, todo o sofrimento, na realidade, é fruto da nossa vaidade que não suporta as decepções. O ego oprimido pensa desesperadamente em alívio, mas, em verdade, tudo o que a alma busca é a plenitude e a vida. É preciso ter muita fibra, força, humildade, amor no coração e perseverança para vencer o mal que habita em nós.

  Todos nós somos compostos por luz e sombra, virtude e vício, loucura e lucidez, vaidade e humildade, ego e amor. Feliz é aquele que consegue equilibrar os opostos de sua alma e viver em paz -- com equilíbrio, consciência, força, perseverança e temperança. 

   Todavia, diante da dor e dos nossos impulsos mais obscuros, nós temos duas opções: a revolta ou a aceitação. A revolta somente acarretará mais dor, pois o desespero não resolve os problemas. Docemente, no entanto, podemos aceitar a dor, "beijar" a dor como a moça na gravura que beija um crânio -- símbolo não apenas da "morte", mas de Thanatos ou dos nossos impulsos de sofrimento -- e "namorar" positivamente a nossa melancolia, transformando-a em poesia ou em sabedoria. Isto tudo significa transmutar a loucura (impulsos obscuros inconscientes) em lucidez (pensamentos sábios e poesia).

    Portanto, o título da poesia traz um curioso paradoxo ao misturar adjetivos distintos num só eu lírico que é louco e lúcido. Afinal, se uma bela flor de lótus pode nascer do lodo e de uma ostra triste surge uma pérola, por que não transformamos a nossa dor em luz?

Taty Casarino

*Obs: Taty Casarino tem plutão em escorpião na casa 1 do mapa astral (casa da identidade). Portanto, ela possui uma obsessão positiva por temas como autoconhecimento, poder, superação e transformações positivas da alma. A pitada gótica fica por conta de Hades...



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