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domingo, 6 de dezembro de 2015

O Asilo da Luz Vermelha



Uma cabana no vilarejo, antigo lar.
Vejo flores no canteiro, família, amor, amar.
De repente, o fogo que se alastra por tudo,
incendiando um lar e queimando sonhos.

Incêndio, tragédia, dor no âmago da alma,
alma órfã que perdeu seu lar, sua família,
seus sonhos, sua vida e sua dignidade.

A decepção corroendo a alma,
um coração despedaçado e injustiçado.
Muito embora sobrevivente do trágico acidente,
queimaduras profundas torturam o vasto espírito.

Perdi o lar, os pais e a vida.
Cambaleando pelas praças, eu choro.
Torturada por dentro, queimada,
oprimida, humilhada e devastada.

Tudo o que eu sou, tudo o que eu amo,
tudo o que eu era, tudo o que eu amava,
tudo o que eu fui, tudo o que eu amei,
tudo está perdido, tudo está decadente.

Pelo fogo, minha vida foi destruída.
Pelo fogo, minha vida será reconstruída.
Ainda há beleza e um fogo ardente latente.
Tudo o que eu serei: amor profano e valente.

Na noite, a rainha das mulheres brilha:
a lua pálida, doce e misteriosamente atrevida
ilumina o céu noturno e inspira poesias.
É preciso poder para renascer do fogo.

Como a fênix, eu renasço das próprias cinzas,
procuro ainda que profana pela vida.
Vida, vida, vida! Vida que ainda me resta.
O caberá será o meu asilo e a noite o meu cobertor.

As estrelas da noite dançam com as suas plumas,
sapatos vermelhos, batons marcantes, corpetes,
saias em camadas, piteiras e luvas.
Elas servem vinho, maçãs e uvas.

Beijos ardentes sob a luz vermelha,
danças ousadas que se regozijam.
O grito da esperança cálida e prazerosa
ardendo na alma, ecoando pelas paredes.

Novo e doce lar, lar oculto. Segredo do submundo.
Ardente voz que exclama a alma que sangra
perdida entre as lápides das ilusões.
Pobres moças perdidas e silentes nesse luxo.

Olhares que lampejam de prazer,
mãos que se tocam, corpos que se unem,
nudez que exclama a vida profana
de uma noite francesa sem limites para o ser.

Lágrimas regando os tristes dias,
noites repletas de gargalhadas e bebidas.
O sexo e a morte colidem sem norte,
a fraqueza vira sorte e o louco é forte.

Arlequins mascarados, loucos, poetas,
bêbados, maníacos, artistas, vagabundos,
prostitutas, pecadores, pescadores,
palhaços de circo, aristocratas e perdedores.

Todos os loucos juntos num mesmo circo:
o cabaré francês ousado e distinto.
Palco dos desiludidos, luxuriosos,
poetas, bêbados e apaixonados.

Poesia escrita por Taty Casarino

    Este poema foi inspirado na obra do pintor francês impressionista Henri de Toulose-Lautrec exposta nesta postagem.

         



     Frequentador assíduo do Moulin Rouge e outros cabarés, o pequeno nobre Lautrec acaba se acomodando muito bem naquele ambiente tão estranho que seus pais nunca aceitaram em ter o filho. O tema principal das pinturas de Toulouse-Lautrec era a vida boêmia parisiense.

      Toulouse-Lautrec sofria de uma doença desconhecida em sua época, possivelmente uma deficiência hipofisária. Na juventude sofreu dois acidentes, fraturando o fêmur esquerdo aos doze anos e o direito aos quatorze. Os ossos mal formados pararam de crescer e fizeram com que Henri não ultrapassasse a altura de 1,52 m, tornando-se um homem com corpo de adulto, mas com pernas curtas de menino.
    Esta doença o deixava sem esperança, e a desvalorização injusta em relação a sua arte propiciava o vício no álcool e na luxúria.

    A poesia pretende também provocar empatia no leitor, pois, apesar da prostituição ser considerada "pecaminosa" e errada, há sempre uma história oculta atrás das atitudes de todo ser humano. Um exemplo disto é a personagem relatada na poesia que, após perder tudo, encontra no cabaré uma espécie de "asilo".


Taty Casarino





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