Olá, pessoal. Hoje a postagem é referente a um texto concedido pelo meu amigo escritor Mateus Ernani Heinzmann Bulow sobre os maiores aventureiros da literatura. Está imperdível! Confiram :)
Os maiores aventureiros da
literatura.
Eu sou um leitor antes mesmo de ser um escritor, e
com isso escolho meus “mestres” na arte, e busco aprender com eles, para mais
tarde seguir meu próprio caminho. Sempre tive maior apreço por histórias de
ação e aventura, talvez porque elas me levassem a conhecer terras e pessoas
interessantes, talvez porque suas descrições vívidas e detalhadas muitas vezes
ultrapassassem a simples forma das letras, e eu pudesse “ver” tudo à minha
frente.
Mas terras fantásticas e distantes precisam de
observadores astutos, além de capazes de sobreviver aos seus perigos e
surpresas. Esta lista é pessoal, admito, pois vários outros heróis e
exploradores poderiam estar aqui, entretanto, decidi apenas falar dos
protagonistas de livros que li, portanto, posso falar deles com propriedade.
Não decidi seguir uma ordem cronológica das obras,
pois assim posso surpreender com personagens completamente opostos ao anterior,
além de manter uma expectativa, algo que as próprias aventuras desses heróis
traziam em seu bojo. Sem dúvida, vários personagens poderiam estar aqui, mas
por falta de espaço, decidi pôr apenas os que considero mais influentes na
minha própria escrita.
Conceber essa lista e esperar que algum dia ela seja
lida já foi uma aventura.
-Barão de Munchausen:
O primeiro integrante da lista
realmente existiu, e o seu nome completo era Karl Friedrich Hieronymus
Munchausen, um rico proprietário de terras nascido em Bodenwerder, na atual
Alemanha. Mais tarde Munchausen sairia da sua cidade, em busca de aventuras, alistando-se
por fim no exército imperial russo.
Ele ficou famoso após lutar ao lado dos russos contra
os turcos, em 1750, e contar aos seus conterrâneos um monte de histórias
exageradas sobre feitos próprios, como ter escapado do afogamento se puxando
pelos cabelos, pegar carona em balas disparadas por canhões, caçar um veado em
cujas galhadas cresciam amoras, ou ainda visitar a lua duas vezes. Já nessa
época, Munchausen tinha a fama de ser o maior mentiroso do mundo.
Seus relatos exagerados foram reunidos por Rudolph
Erich Raspe, um bibliotecário conterrâneo de Munchausen, e publicados em
Londres com o nome de “As Loucas Aventuras do Barão de Munchausen”, em 1785.
Conta-se ainda que Rudolf teria acrescentado ou inventado outros contos aos
relatos originais, para tornar seu livro mais interessante.
Em 1991, o diretor e ex-membro do grupo humorístico
“Monty Phyton”, Terry Gillian, fez uma versão cinematográfica das aventuras do
Barão.
-Don Quixote:
Um nobre decadente e já
próximo da velhice decide se transformar em um cavaleiro, e enfrentar bandidos
e monstros, enquanto busca por sua “donzela” Dulcinéia de Toboso, que na
verdade era uma robusta camponesa que trabalhou em suas terras anos atrás. No
caminho, ele encontra Sancho Panza, um rotundo agricultor que se une à sua
louca aventura.
Obviamente, a mesquinhez e a falta de honestidade do
mundo que o rodeia acabam se tornando o maior desafio a este cruzado fora de sua
época, mas e quem entre nós não passou por situações similares? De enfrentar
moinhos de vento crendo estes serem monstros, e prestar reverências a pessoas
que não a mereciam? Dom Quixote nos mostra que a maior aventura a ser superada
é a rotina, responsável por tornar o ser humano uma criatura fria e automática,
e nesta luta a imaginação vívida é a nossa melhor arma.
Ironicamente, seu próprio criador, o espanhol Miguel
de Cervantes, teve uma vida ainda mais movimentada que o protagonista de sua única
obra. Marinheiro e voluntário das guerras no Mediterrâneo, Cervantes foi
aprisionado por piratas argelinos, mas conseguiu fugir, para mais tarde
participar da decisiva batalha de Lepanto, onde diversos países europeus
uniriam suas forças contra a expansão do Império Otomano no Mediterrâneo.
Apesar de perder os movimentos de sua mão direita devido a um tiro de arcabuz,
Cervantes se orgulhava de sua participação naquela batalha.
-Odisseu:
O rei da pequena ilha de Ítaca
começou sua jornada já na Ilíada de Homero, e também demonstrou sua
engenhosidade ao sugerir a construção do Cavalo de Tróia, permitindo a derrota
dos adversários de Micenas. Entretanto, aquele havia sido apenas o começo de
suas aventuras e desventuras no Mar Mediterrâneo.
O trajeto de Odisseu, também chamado de Ulisses,
seria mais uma vez narrado por Homero, em outro poema épico denominado
Odisséia, uma palavra até hoje associada a longos caminhos e jornadas.
Entretanto, nem mesmo o ódio de Poseidon, as magias de Circe e o canto das
sereias foram capazes de impedir Odisseu de retornar à sua mulher, Penélope,
para logo em seguida debelar uma tentativa de golpe em seu próprio palácio.
Apesar de alguns trechos serem mais conhecidos, como
é o caso dos episódios acima citados, Odisseu seria capaz de sobreviver a
muitos outros perigos, alguns deles envolvendo a fúria de outros deuses, como
quando seus homens inadvertidamente mataram alguns bois do rebanho de Hélio, o
deus do Sol. Até mesmo o rio infernal do Éstige seria atravessado pelo monarca
e seus homens, após Perséfone convencer Hades a dar-lhe “passe livre”, um feito
jamais igualado por outros heróis gregos.
-Allan Quatermain:
O líder da expedição em busca
das míticas Minas do Rei Salomão também é o narrador da história. Juntamente
com o Capitão John e Sir Henry (de longe o personagem mais engraçado do livro),
Quatermain vai ao continente africano. Na África, eles enfrentam feiticeiras,
tiranos tribais e feras selvagens até encontrar o mítico tesouro, uma mina de
diamantes que, segundo as lendas, teria pertencido ao Rei Salomão de Israel.
Apesar de viver em uma época onde o racismo era
considerado normal, Quatermain fazia comentários ácidos a respeito do posicionamento
europeu na África, em especial a respeito do tratamento brutal dispendido aos
nativos, embora também acreditasse que a cultura britânica também pudesse
ajudar aqueles mesmos nativos a prosperarem no futuro. Os próprios africanos o
respeitavam pela coragem, e o denominavam Macumazana, “Aquele que se mantém em
pé”.
O sucesso das Minas do Rei Salomão motivaria Henri
Rider Haggard a escrever uma série de histórias envolvendo Quatermain, além de
iniciar o pontapé para outras aventuras nas fronteiras selvagens do globo,
escritas por outros autores. A imagem desse típico herói britânico da segunda
metade do século XIX, praticamente o auge das grandes expedições européias na
África, também seria aproveitada na série de quadrinhos “A Liga Extraordinária”,
criada por Allan Moore.
-Wilfred de Ivanhoé:
Por tomar o partido do rei
normando Richard durante as batalhas pelo controle da Inglaterra, e também por
se envolver com uma dama de extrato social mais elevado, um cavaleiro saxão é
desterrado por seu próprio pai, e a partir daí, suas aventuras começam. São
três os seus maiores objetivos: Recuperar o trono de Richard, o amor de Lady
Rowena, e também a sua própria reputação.
Considerado por muitos o primeiro romance histórico
do Romantismo, o cavaleiro saxão Ivanhoé também exalta o nacionalismo inglês e
ainda faz uma crítica sutil ao preconceito anti-semita, ainda forte na Europa,
na cena em que o protagonista entra em um duelo para impedir que uma judia
chamada Rebbeca fosse queimada na fogueira.
O estilo medieval da história escrita por Sir Walter
Scott, que é preciso e fantasioso na medida certa (em alguns trechos, Robin
Hood aparece e ajuda o herói), inspiraria outras obras do século XIX, como
Eurico, o Presbítero, escrito pelo português Alexandre Herculano. Vale lembrar
que Scott foi promovido a Sir devido justamente ao sucesso de sua obra.
-Os Lusíadas:
Aqui, o herói de Camões é o
Povo Português, também chamado Povo Luso, com sua sede de aventura e descoberta.
O maior inimigo dos lusos é o deus romano Baco, símbolo da depravação e da
indolência, e responsável pela decadência dos homens, bem como pela decadência
dos grandes impérios do passado.
Mesmo sendo uma nação pequena e de poucos habitantes,
o Portugal retratado no poema é forte o suficiente para manter Castela afastada
das suas fronteiras, superar os desafios do monstruoso gigante marinho
Adamastor e gerir conquistas tão ou mais gloriosas quanto às dos impérios
passados.
O próprio marujo-poeta Camões foi testemunha e agente
da expansão portuguesa ao redor do mundo, chegando a lutar no Extremo Oriente,
onde perdeu um dos olhos. Embora concluída em 1566, Camões apenas publicaria Os
Lusíadas em 1572, após seu retorno das longínquas terras do Oriente. A
popularidade de sua obra já seria atestada ainda em sua época, ao ponto de
quatro estudantes da Universidade de Évora criarem uma paródia aos dez
primeiros cantos, em 1589.
-Peri:
O guerreiro goitacá desgarrado
de sua tribo e fiel ao fidalgo português Antônio de Mariz é um personagem quase
esquecido na historiografia nacional: O índio que resolveu deixar suas terras,
se aliar aos portugueses, adotar diversos de seus costumes, e indiretamente auxiliar
na criação do Brasil como nós conhecemos hoje.
Peri sem sombra de dúvidas está à altura de sua
missão: O personagem captura uma onça viva, desce em um abismo cheio de serpentes
e aranhas, enfrenta uma tribo inteira em uma luta e ainda sobrevive ao
envenenamento auto infligido, graças à sua própria força de vontade para
proteger sua amada senhora Cecília.
Mais tarde, o “guerreiro das selvas” ressurgiria na
figura de Tarzan e nos filmes do Rambo. Até mesmo os pelotões de Infantaria de
Selva brasileiros, considerados os melhores e mais bem treinados do mundo,
tiveram influência dos indígenas aliados aos portugueses, e são compostos em
boa parte por índios ou seus descendentes. Em cada um desses soldados, pode se
afirmar que existe um Peri pronto para lutar.
-Bilbo Bolseiro:
Não é fácil para um indivíduo
pacato deixar um ambiente de conforto e entregar-se de corpo e alma em uma
busca interessante, mas que à primeira vista parece impossível de ser realizada.
O hobbit Bilbo Bolseiro foi temporariamente removido de sua confortável toca
devido ao recrutamento indireto do mago Gandalf e seus amigos anões, liderados
por Thorin Escudo de Carvalho.
A “empreitada” trata-se de recuperar um tesouro
fabuloso roubado pelo terrível dragão Smaug, e Bilbo é a arma secreta, afinal
Smaug nunca sentiu cheiro de hobbit antes. No caminho estão os terríveis orcs e
seus lobos de guerra, aranhas gigantes, elfos e Beorn, o homem urso. O sangue
aventureiro da mãe de Bilbo, Beladona Tukk, é o combustível que move o hobbit a
acompanhar a comitiva, e também seria visível em seu sobrinho, Frodo,
responsável pela destruição do anel de Sauron.
-Phileas Fogg:
O personagem principal de A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias é um típico londrino metódico até demais, que
sempre acordava às 8 horas da manhã, e fazia a barba às 09h37min. Que sujeito
seria melhor para cumprir uma promessa de atravessar o mundo em menos de
oitenta dias? Acompanhado apenas de seu fiel criado francês, Jean “Fura-Vidas”
Passepartout, e viajando em um balão, os dois amigos necessitam ainda escapar do
obsessivo e incansável detetive Fix, que confundiu Phileas Fogg com um perigoso
assaltante de bancos.
No meio da viagem, o Senhor Fogg salva uma indiana de
ser queimada viva seguindo os costumes locais, e esta aceita se casar com ele,
mesmo sabendo que ao fim da longa viagem ele corria o risco de perder todas as
suas economias na aventura. No seu Volta ao Mundo em Oitenta Dias, Júlio Verne,
nos mostra que durante o trajeto de uma jornada, o próprio itinerário a ser
tomado muitas vezes é mais interessante que o seu final.
-Simbad, o marujo:
Filho de um homem rico de
Bagdá, Simbad perdeu tudo no jogo e na bebida, e agora cruza os oceanos em
busca de uma nova fonte de renda, compatível com a sua inesgotável sede de
aventuras. Foram ao todo sete viagens pelos mares, onde não faltaram criaturas
fantásticas, tais como o gigantesco pássaro Roca, homens peludos similares a
macacos, serpentes enormes e povos de costumes peculiares. Simbad é, ainda
hoje, o protótipo do aventureiro marítimo, hábil tanto no uso da força como na
lábia.
Existe uma filmografia extensa a respeito de Simbad,
o marujo, mas os três filmes mais conhecidos do herói tiveram a mão do já
falecido Ray Harryhausen, o mago das criaturas em stop-motion (efeitos
especiais com bonecos). Esses filmes são: A 7ª Viagem de Simbad, A Viagem
Dourada de Simbad, e Simbad e o Olho do Tigre.
-Lemuel Gulliver:
O personagem principal é um cirurgião renomado em sua
cidade na Inglaterra, mas não se contenta em seguir sua vida monótona, e decide
viajar pelo mundo, em busca de lugares interessantes. O próprio protagonista
gosta de descrever a si mesmo como “primeiro um cirurgião, depois um capitão de
vários navios”.
Em seu caminho estão as estranhas ilhas de Lilliput
(também chamada Laputa em algumas traduções), Blefuscu, Brobdingnag, entre
outros locais bizarros e de nomes curiosos, sátiras da política internacional
do Século XVIII, em especial a rivalidade política e militar entre o Reino
Unido e a França. Duas das ilhas, por exemplo, estão em guerra há anos, devido
à discordância sobre qual o melhor lado para se quebrar um ovo!
Em um trecho das viagens, Gulliver é apresentado a
uma máquina chamada apenas de “O Engenho”, responsável por gravar pensamentos
ditados pelo seu criador. Essa máquina curiosa pode ser considerada
premonitória, quase como um antecessor lendário dos nossos computadores, cada
vez mais modernos.
Quando ao final de sua jornada, passa por uma ilha
habitada por cavalos mais inteligentes que os homens, Gulliver se dá conta que
o animal mais incompreensível que existe é o ser humano, e volta para a sua
cidade, a fim de relatar tudo o que viu. A ousadia do autor, o escocês Jonathan
Swift, acabaria por criar um novo gênero de fantasia: A satírica.
-Pimpinela Escarlate:
O protagonista é um nobre inglês, chamado Sir Percy Blakeney, que luta para defender os cidadãos franceses durante o Período do Terror da Revolução Francesa. Suas marcas registradas: A flor vermelha deixada nos locais por onde passava, a máscara que esconde seu rosto, e a incrível capacidade de fugir da polícia política do regime brutal de Robespierre.
A autora do romance foi uma baronesa chamada Emma
Orczy. A fama do livro foi tamanha, que estimulou a autora a escrever uma série
de sequências sobre o personagem, algo até então inédito na literatura, a despeito
de alguns autores terem realizado continuações de seus livros no passado. Emma
Orczy arrecadou uma fortuna tão grande que permitiu a ela e seu marido viverem
em um condado chique do interior da Inglaterra.
De certa forma, a figura esquiva do Pimpinela
Escarlate deu origem a um dos gêneros mais populares dos quadrinhos: O gênero
do herói mascarado de origem nobre, playboys indolentes e desinteressantes durante
o dia e grandes lutadores da justiça durante a noite. Exemplos modernos de tais
heróis não faltam: Zorro, Sombra, Batman, Homem de Ferro e o Arqueiro Verde.
-Cyrano de Bergerac:
Da mesma forma que o Barão de Munchausen do início da lista, Cyrano de Bergerac também é um personagem real, e viveu no século XVIII. Ele era conhecido pela habilidade com a pena e a espada, e também pelo enorme nariz, que o transformou em motivo de chacota entre os círculos aristocráticos da França de Luís XIV, e também o motivou a entrar em vários duelos, nem sempre saindo como o vencedor.
Sua história mais conhecida foi quando auxiliou um
rapaz muito atraente, porém desprovido de dotes intelectuais, a conquistar uma
moça chamada Roxanne. Cyrano sabia que não tinha chances, devido à sua
aparência desagradável, e concordou em escrever poemas como se estes fossem da
autoria deste rapaz, pois seria o mesmo que escrever para Roxanne, sob outro
nome.
Cyrano de Bergerac, sem dúvida, faz parte de uma
“tradição” na literatura francesa, conhecida como o “Belo-Horrível”. Tal
personagem seria identificado pela aparência horrível ou asquerosa, porém
também seria marcado pelas boas intenções e por sua capacidade de criar coisas
belas. Outros exemplos marcantes no folclore e na literatura da França seriam a
Fera, de A Bela e a Fera, e o Quasimodo de Notre Dame de Paris.
-Marco Polo:
Durante a supremacia mongol na
Ásia, a Rota da Seda seria reativada, e com isso, diversos exploradores e
comerciantes corajosos vindos da Europa aproveitariam o momento propício em
busca de produtos raríssimos e valorizados nos mercados do continente. Durante
essa era de bonança, o comerciante veneziano Marco Polo ficou famoso na Europa
pelo seu “Livro das Maravilhas”, sobre os costumes e povos do Oriente, bem como
de suas invenções curiosas e desconhecidas dos europeus, tais como o
papel-moeda, a pólvora e o carvão. Ao retornar à sua terra natal, Marco Polo
ganhou o apelido de “Il Millione”, aquele que conta mil histórias fantásticas.
Não se sabe ao certo se Marco e seu irmão, Niccolo
Polo, realmente foram à China e conheceram a corte imperial de Kublai Khan,
neto e sucessor de Gengis Khan, mas as suas histórias, verdadeiras ou não,
merecem lugar de destaque nessa lista, devido ao fato de que elas foram o maior
sucesso de vendas literárias da Europa até então. O mais impressionante foi que
seu “Livro das Maravilhas” foi sucesso de tradução em vários países em uma
época onde sequer havia impressão de livros.
Existe inclusive uma teoria de que Marco nunca
existiu, mas trata-se de uma invenção de outro autor, anônimo, que
“apropriou-se” dos relatos de viajantes persas e árabes para compor seus
relatos. Seja verdade ou fantasia, não podemos negar que Marco Polo atravessou
as fronteiras do real e do literário, com sua combinação irresistível de
elementos históricos e imaginativos, tornando-se ao mesmo tempo um personagem
da História, com “H” maiúsculo, e também de várias “estórias”.
-Abraham Van Helsing:
Cientista, místico e caçador.
Assim o antropólogo foi apresentado aos leitores de Drácula, em 1897, obra do
irlandês Abraham Stoker. Nativo de Amsterdã, o professor Van Helsing também era
um especialista em ciências ocultas, além de ter trabalhado como médico e
advogado antes de se dedicar a essa tarefa sinistra, porém necessária de livrar
o mundo das criaturas das trevas.
Apesar de já estar em idade avançada durante o espaço
temporal de Drácula, Van Helsing é descrito como extremamente forte, talhado
para o combate, e também como um católico fervoroso, ao ponto de recusar o
divórcio com sua mulher, mergulhada em loucura profunda após a morte do único
filho do casal. O romance, entretanto, não especifica se a morte do primogênito
se devia a um vampiro, ou outras criaturas malignas da noite.
Sem dúvida, as mais conhecidas adaptações do corajoso
cientista se devem a Peter Cushing, nos filmes de Drácula da produtora inglesa
Hammer, e também a Anthony Hopkins no Drácula de Francis Copolla. Entretanto,
diversas histórias apresentando o seu sobrenome (atualmente, Drácula se
encontra em domínio público) tratam de seus descendentes e sucessores, como é o
caso do filme homônimo de 2007, onde o protagonista se chama Gabriel Van
Helsing, e um jogo eletrônico de 2013, chamado Incredibles Adventures of Van
Helsing, onde o protagonista é filho do personagem original.
-Conan, o Cimério:
“Saiba, ó príncipe, que
durante a tragédia de Atlântida e a ascensão de Árias, houve uma era
inimaginável...” Assim, Robert Erwing Howard apresentou a Era Hiboriana, palco
de seu personagem mais popular até hoje. Apesar de o nome de Conan geralmente
estar acompanhado do apelido “O Bárbaro”, ele nunca foi chamado assim por seu
criador, e apenas outros personagens denominavam o Cimério dessa forma
(geralmente os seus inimigos...).
Ávido por aventuras e tesouros, Conan deixa sua
sombria terra natal durante a tenra adolescência, quando seu nome já era
conhecido entre seus companheiros como sinônimo de coragem. Durante o longo
caminho de vinte anos, o Cimério foi de tudo um pouco: Ladrão, pirata,
mercenário, explorador... Até a sua chegada ao majestoso reino da Aquilônia,
onde ele assumiria o poder após uma cruenta guerra civil.
Apesar de brutal e essencialmente voltado à própria
sobrevivência em um mundo violento, onde a intriga e a magia espreitam a cada
esquina, Conan é honrado, cumpridor de suas palavras, e geralmente respeitoso
com quem é mais fraco, em especial com as mulheres. Mesmo sendo um escritor de
revistas Pulp, vistas apenas como um mero entretenimento passageiro para
crianças e adolescentes, Howard criou um personagem cuja influência pode ser
vista em aproximadamente nove em cada dez histórias de aventura e fantasia, ao
ponto de estabelecer um novo gênero: Espada e Magia.
-Tibicuera:
O personagem criado por Érico
Veríssimo é praticamente uma síntese da história do Brasil, começando com as
tribos indígenas do período anterior à chegada dos portugueses, até os anos 60
do Século XX. Um guerreiro indígena chamado Tibicuera sente-se desesperado ao
ver o tempo passando e constatar a finitude da existência, mas um sábio pajé o
lembra de que seus descendentes continuariam seu legado na terra.
E então somos levados ao futuro do Brasil, ou melhor,
aos futuros, onde os muitos descendentes de Tibicuera passam por várias etapas
de nossa história, com ênfase nas lutas e batalhas pelo estabelecimento do
Brasil como nação. Um recurso narrativo utilizado com maestria por Veríssimo é
colocar uma narração única nos descendentes do guerreiro tupi, como se todos
eles fossem um único personagem.
E assim, as muitas estórias dos descendentes de
Tibicuera seguem até os anos 60, o presente na época em que Veríssimo terminou
o seu livro, onde o último descendente dessa epopéia vive no Rio de Janeiro,
como um doutor respeitado. Curiosamente, o autor colocou na introdução que, por
se tratar de um relato dito a ele pelo próprio Tibicuera, os leitores deveriam
reclamar com o próprio personagem caso não gostassem do livro.
-Rodrigo Cambará:
E aqui terminamos a lista com
outra criação singular de Érico Veríssimo. De início, ele era um simples
forasteiro fanfarrão e namorador, mas apesar de todos os seus defeitos, o
Capitão Rodrigo seria alçado ao símbolo máximo do estereótipo comum ao gaúcho,
seus trejeitos e sua coragem absoluta, chegando às raias do suicídio.
Talvez mais corajosa que esse Gaúcho com “G”
maiúsculo, só mesmo a sua mulher, Bibiana Terra. Apesar de sua natural
desconfiança quanto às razões dos homens, ela aceita se casar com ele, ao ver o
quão honrado e bravo ele era, apesar de seus inúmeros defeitos. Os anos seguem
tranqüilos, com certos atritos entre o casal, mas apenas a Revolução
Farroupilha seria capaz de separar a ambos.
Assim como ocorre com os Lusíadas, o principal
personagem do “Tempo e o Vento” de Érico se trata do povo do Rio Grande do Sul.
Mesmo assim, o trecho a respeito de “um certo Capitão Rodrigo” teria destaque,
talvez por obra do destino, talvez pelo charme dos defeitos incorrigíveis de
seu protagonista, ao ponto de diversas edições de O Tempo e Vento contarem com
esse trecho da obra como um livro separado.
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