O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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sábado, 19 de setembro de 2015

A mortalidade como parâmetro da vida e da humildade

               



  Esses dias eu estive pensando: se eu pudesse definir qual a minha "filosofia" de vida, qual seria? Pensando nisso, cheguei a conclusão que o maior parâmetro da minha vida é a morte. Sim, a morte! Loucura, né? Parece um paradoxo fazer da morte um parâmetro para a vida. Mas, a partir do momento que temos consciência da nossa mortalidade, passamos a aproveitar a vida melhor, eis que sabemos que ela é breve.
   Esses dias antes de dormir eu tive uma daquelas sensações de efeito "eureka"*, aqueles "insights" que envolvem a alma num êxtase estranho de iluminação. Vi o quanto a vida que outros dizem ser "real" nada mais é do que uma atmosfera repleta de ilusões. Os nossos bens materiais, as nossas lutas diárias, as nossas conquistas, perdas, lágrimas e sorrisos são tão efêmeros quanto o vislumbre de uma estrela cadente.
   Estranho o fato de essa sensação melancólica acerca da brevidade da vida possa ter arrebatado a alma de uma pessoa tão jovem quanto eu. Longe de ser perfeita, eu ainda tenho inúmeros vícios a depurar, mas ao menos não me vislumbro mais com as superficialidades da vida. O que fazer a partir do momento da conscientização de que a vida é ilusão? Tornar-me amarga e morna esperando a morte chegar numa cadeira de balanços e de braços cruzados não faz o meu perfil.
     Está inclusive na bíblia em Apocalipse que os "mornos" não serão apreciados por Deus: "Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca." Continuo a ser doce e quente, cheia da garra típica da juventude e com sonhos, muitos sonhos para realizar ainda em vida em benefício da sociedade. Sim, eu sou uma daquelas românticas incorrigíveis que pregam que o mundo pode ser melhor por meio de ideais. Prego isso não por ser "boba", "ingênua" ou "idealista', tenho inclusive uma noção muito forte de realidade dentro de mim, e a realidade é uma só: o nosso destino final (morte), mas por acreditar na capacidade de transformação do ser humano e da sociedade.
 
   
    Algumas coisas precisam "morrer" de fato para que a nossa sociedade possa ser transmutada e elevada à harmonia e à paz que merecemos: o orgulho precisa morrer, os preconceitos precisam morrer, a arrogância precisa morrer, as competições doentias precisam morrer, o ódio precisa morrer, a violência precisa morrer, a indiferença precisa morrer...
      Acredito numa sociedade renovada, transmutada e elevada e em um mundo melhor do que este que se apresenta hoje, eis que tudo morre e renasce de forma diferente. Se eu pudesse escolher a milha palavra favorita do dicionário, eu escolheria a palavra transmutação. Transmutação significa o ato ou efeito de mudar, de transmudação. Em alquimia, é a conversão de um elemento químico em outro. E é por saber da morte que eu acredito no poder da transmutação da vida.
  
                 

                         

    Muitas pessoas fogem de reflexões acerca da morte, e acreditam que para viver bem é preciso esquecê-la. Mas, eu gosto de lembrar acerca da minha mortalidade. Sou mortal assim como todo mundo. Então, não sou pior ou melhor do que ninguém. A maior professora de igualdade e humildade é a morte. Há um romantismo intrínseco no aprendizado baseado na mortalidade.
    Já que não somos eternos, vamos expressar o nosso amor às pessoas, viver o que a gente quer, adquirir o máximo de experiências possíveis, doar-se intensamente à vida, fazer o bem para o maior número de pessoas possíveis, aprender ao máximo, ensinar ao máximo o que foi aprendido...
    Eu tenho fé de que sou muito mais do que o corpo, acredito na transcendência, não para aliviar o medo da morte, mas porque a fé é a minha estrutura da alma. Mas, independentemente de sua crença em transcendência ou em na eternidade espiritual, o fato é que pensar sobre a brevidade do corpo e da vida renova os valores e pode ser benéfico.
      Para finalizar a postagem, deixo a reflexão: qual o esforço que fazemos para aproveitar da melhor maneira possível os nossos dias em vida?

Texto escrito por Tatyana Casarino

*Eureka!, Eureca!, Heureka! ou Heureca! é uma famosa exclamação atribuída ao matemático grego Arquimedes de Siracusa .
A história conta que Arquimedes pronunciou esta palavra após descobrir que o volume de qualquer corpo pode ser calculado medindo o volume de água movida quando o corpo é submergido na água,conhecido como o princípio de Arquimedes. Esta descoberta foi feita quando se encontrava na banheira, pelo que saiu nu para as ruas de Siracusa gritando: Eureka!
Eureka é a primeira pessoa do singular do perfeito do indicativo do verbo heuriskein, (εὑρίσκω), que significa "encontrar". Significa, portanto, encontrei. A palavra "Eureka" usa-se hoje em dia como celebração de uma descoberta, um achado ou o fim de uma busca. Tem o mesmo radical da palavra "heurística".


Confira a mensagem do Dalai Lama:


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