O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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terça-feira, 7 de julho de 2015

Crime: um dos grandes espelhos sociais



O tempo atual é cheio de coisas e vazio de seres. O que se vê é um progresso científico e tecnológico gigantesco como nunca se teve antes e, em contrapartida, um vazio de significado na mesma proporção.
  Temos muitas coisas: celulares, computadores, aviões, carros, roupas bonitas de todos os gêneros, navios, submarinos, remédios para grande parte dos males físicos, televisões, internet cada vez mais veloz, redes de comunicação cada vez maiores em variedades e qualidades, ar-condicionado Split, tablets, Iphones, relógios digitais, termômetros, tanques de guerra, armamento de alta qualidade, rastreadores, satélites, espaçonaves e até foguetes.
    O ser humano tem uma capacidade incrível de descobrir o ambiente externo onde vive, de explorar o espaço e de modificar o seu estilo de vida com base nas adaptações científicas e do progresso tecnológico. Já viajamos para fora da Terra, já exploramos a via Láctea e há quem diga que o homem até pisou na lua (acredite quem quiser)...
   Mas, quando se trata de viajar para dentro de si, o ser humano ainda não sabe nada a respeito... Mergulhar no íntimo, no âmago da alma, descobrir-se enquanto Ser Humano não é papo de autoconhecimento de livro de autoajuda ou mero misticismo sem valor científico cujos céticos "torcem" o nariz com orgulho e desprezo ignorante... Mergulhar dentro de si é preciso. Se quisermos uma sociedade mais pacífica, mais humana, mais ética e solidária e com valores baseados dos Direitos transindividuais, é preciso que o ser humano saiba a respeito de si próprio para poder ter controle de seus pensamentos, sentimentos e atitudes.
   Uma atitude criminosa, por exemplo, é fruto não só da falta de Educação (ok, eu sei que é um "clichê" intelectual apertar a tecla de que melhorias na Educação seriam o remédio para os males sociais e para a criminalidade, mas, esse discurso continua ser, ao meu ver, o mais coerente sim...a Educação é a única que resolve as raízes dos males sociais, os demais investimentos são meros "paliativos" na maioria das vezes), mas também da falta de conhecimento acerca de si mesmo.

                  

   O crime é o reflexo de uma sociedade vazia de significado. O ódio, a inveja, o ciúme, a raiva e todos os demais sentimentos que provocam grande parte dos delitos considerados "passionais" são frutos da falta de reconhecimento de que o outro nada mais é do que o nosso espelho. As características que mais nos causam irritação geralmente pertencem a nós próprios, mas na ânsia de não mergulhar dentro de si, é mais fácil apontar o dedo para o próximo e condená-lo de tudo aquilo que é feio, amoral, criminoso ou inconveniente.
  O "sucesso" da mídia sensacionalista ao vender "fracassos, sangue e tragédias" decorre justamente do efeito catarse que a notícia de crime exerce no público.
  Catarse (do grego kátharsis, purificação)é uma palavra utilizada em diversos contextos, como a tragédia, a medicina ou a psicanálise, que significa "purificação", "evacuação" ou "purgação". Segundo Aristóteles a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama.
  Nesse sentido, ao lermos uma notícia de Crimes efetuados por outras pessoas, sentimos uma espécie de "purificação" no ego devido ao fato de que enxergamos o mal no outro e esquecemos do nosso próprio mal interior ou dos males de nossas vidas. A hipocrisia consiste justamente em pensar que somos puros, imaculados, meras vítimas do sistema e que os outros é que são "perigosos", "maus" e "bandidos".

       

   Quando o Mestre dos Mestres, um dos homens mais sábios que a humanidade já conheceu, Jesus Cristo, disse ao povo que estava atirando pedras em Maria Madalena: "Atire a primeira pedra quem não nunca pecou", Ele quis que o povo deixasse de olhar para fora e começasse a olhar para dentro de si mesmo. Olhando para fora, o povo via em Maria Madalena a personificação dos pecados, pecados esses que estavam dentro de cada um deles próprios. Atirar pedras em Maria Madalena era a maneira hipócrita de canalizar a raiva de seus próprios pecados em uma espécie de "bode expiatório".
   Quando Jesus disse: "Atire a primeira pedra quem nunca pecou", ele provocou um grande despertar espiritual naquele povo que, ao invés de atirar pedras em Maria Madalena, começou a enxergar dentro de si os próprios pecados. Olhar para dentro de si é o início do despertar espiritual e psíquico do Ser humano e, por conseguinte, a chave para a evolução da harmonia social. Afinal, como diz o psicanalista Carl Jung: "Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta."

    

   Não quero com esse texto minimizar a gravidade dos crimes ou perdoar os criminosos, todo aquele que comete delitos deve cumprir a sua pena de acordo com a lei. A gravidade dos crimes em nossa sociedade é gigantesca e ninguém nega...sentimos medo de sair nas ruas, sentimos o perigo percorrer as nossas veias. A proposta legítima desse texto é fazer refletir apenas. É retirar a névoa da hipocrisia de nossos olhos e fazer com que nós possamos enxergar o mal que há dentro de nós também e não apenas o "mal" dos bandidos nos jornais.
  O crime é um espelho do potencial de mal que todo ser humano carrega. Mas nem tudo está perdido, porque os sábios que passaram pela Terra também nos mostraram que há um potencial de sabedoria e bondade dentro de nós também. Quando olhamos para o arco-íris e distinguimos as cores (o azul do violeta, o vermelho do amarelo e assim por diante), sabemos classificar as diferenças, porque já vimos as cores antes, as cores também estão dentro de nós. Da mesma forma, quando olhamos o belo, o feio, o bom e o mau, sabemos diferenciar cada um, pois todos esses arquétipos também estão presentes dentro de nossa alma.

     

   Se tudo fosse azul, jamais saberíamos que o azul é aquela cor fria diferente do vermelho quente. Da mesma forma, se tudo fosse luz e bondade, jamais saberíamos reconhecer a luz nem a bondade. São as trevas que nos permitem enxergar a luz e dar valor a ela. Para um ambiente claro, uma pequenina vela é insignificante, mas para um ambiente escuro, uma pequenina vela é uma bênção, um guia, um farol. E é por isso que existe o mal no mundo> para que possamos reconhecer o verdadeiro bem e para que a luz possa ser vista como um farol que nos levará à sabedoria.
    O ser humano é um ser dual, complexo, intrigante e infinito em suas potencialidades ocultas. Gosto de histórias fictícias românticas com vilões bem definidos, heroínas puras e heróis virtuosos e sofredores. Mas, na vida real não há vilões nem mocinhos, há seres humanos com defeitos e qualidades, bem e mal. O que diferencia o nosso caráter é aquilo que mais alimentamos dentro de nós mesmos com pensamentos, emoções e atitudes> se alimentamos mais o bem, seremos bons, se alimentamos mais o mal, seremos aqueles de caráter duvidoso e quem sabe até maus de acordo com os jornais que lemos...

       

   Se reconhecemos o mal no mundo, nos bandidos e nos outros, devemos saber que aquele mal faz parte da essência humana, inclusive a nossa. Portanto, se quisermos ser pessoas melhores, dignas e honradas, devemos estar sempre vigilantes para não cairmos nas "tentações" do nosso ego, do nosso orgulho e das nossas sombras interiores.
 O crime é um grande espelho social, um espelho que choca e apavora e que custamos a admitir aquele mal como nosso. Entretanto, a partir desse espelho podemos nos despertar para os perigos da nossa sociedade e de nós mesmos. É fácil enxergar os bandidos como "ervas daninhas" que precisam ser excluídas para limpar o nosso "jardim florido". O difícil é cuidar melhor da terra para que os seus frutos sejam melhores. De que maneira nascem as tais "ervas daninhas"... deveríamos nos perguntar. Como cuidar melhor do nosso jardim..com mais Educação, Saúde, menos corrupção e mais verbas bem direcionadas.

      

  Que nós possamos evoluir não apenas de forma tecnológica, explorando o mundo exterior, o espaço, a lua e os astros, mas também enquanto Ser Humano, evoluindo as percepções acerca de si mesmo, dos outros, do nosso bairro, da nossa sociedade e do nosso país. O mundo é um grande espelho de nossa alma, toda descoberta externa deveria significar uma descoberta interior também.

Texto de Tatyana A.F Casarino

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