O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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quinta-feira, 5 de março de 2015

Luxúria & Castidade



Nos porões dos conventos,
o pecado transcende às grades.
Luxúria e devoção num só fio
onde a repressão é apenas o afrodisíaco.

Belas mulheres em seus mantos,
pacto de castidade pura
esquecido sob o luar.

Olhares de lascívia em plena igreja,
encontros escondidos, pervertidos
naquelas noites sem razão.

Pés despidos sendo admirados,
femininos calcanhares desejados.
Grades separam o sonho da carne,
vulcões contidos naquelas tardes.

Sacerdotisas oprimidas
naquele tempo clérigo e patriarcal.
Tratadas ora como santas,
ora como prostitutas.

Prostituta do templo,
embriagada de sedução,
que seja em segredo o teu intento,
bruxa do acalento e da redenção.

Com ares de pecado a tua libido,
a mais provocadora e doce intenção,
embriaga os homens de lascívia
na mais pura e doce sensação.

O livre-arbítrio te permite a carne,
sedento de prazer é teu intento,
no pretexto de cura, tu foste alento,
consolo nos leitos de monges e magos.

Teus seios desvelados do outro lado
daquelas grades opressoras.
Na calada da noite,
o homem que detivesse a chave
desfrutava do teu leito
e enlouquecia com teus beijos.

Taty Casarino.

*Essa poesia foi inspirada na obra "Alegoria da Castidade" de Hans Memling (imagem postada acima do poema) e no livro "Que seja em segredo". Veja a sinopse do livro:



"Houve um tempo em que o desejo sexual transpôs os limites da espiritualidade reclusa. Os homens procuraram profanar os conceitos de virtude que os oprimiam e aos quais se submetiam num próprio ato irreverente de maculacão. Como poucas vezes, a interdição sexual teve a função de afrodisíaco. Era preciso degradar o fascínio do mal; espiritualizar o corpo e erotizar a alma. Para isso, nada como buscar o prazer na escuridão dos conventos."

 Ana Miranda no ensaio introdutória fala de um tempo em que os convento não abrigavam somente as predestinadas vocacionais, mas também as arrebatadas jovens de família que, muitas vezes, numa época onde a mulher não poderia se expressar, encontravam na reclusão do convento a oportunidade de ampliar seus talentos espirituais e intelectuais. Poemas passionais das freiras e seus admiradores demonstram o que ocorria nos bastidores da reclusão.

O livro é um pouco forte hehehe, mas eu recomendo a leitura para todos aqueles que gostam de estudar História e, principalmente, analisar a história da mulher na espiritualidade e o seu papel em diferentes épocas de expressão e repressão.

Taty Casarino.


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