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domingo, 15 de junho de 2014

Somehow


  Somehow*
  

 
Poema dedicado ao meu amado avô Ivo. Também dedico esses versos a todos aqueles que já tiveram de superar fobias psicológicas.

Somehow, I know
I just like you.
Somehow.
Somehow.*

De algum modo, eu sei.
Eu sou como você.
Teu olhar generoso,
tuas vestes caladas,
a cerveja gelada.

E tua alma,
quantos segredos guardava?
Meu avô, meu pai, meu amigo,
aquele que me abraçou,
e muito me amou.

Um cidadão brasileiro
que ajudava por ajudar,
ajudava a todos sem ostentar,
ajudava simplesmente por amar.

A vida era doída,
procurava a bebida,
chamava os amigos para conversar.

Era noite, três litros de leite
para mim ele carregava,
três degraus entre a cozinha e a sala,
logo ele tropeçara.

Pele morena, queimada do sol,
camisa desabotoada, cerveja gelada,
noite de verão, salão da casa.

Música, sorrisos, festas,
sem medo de viver.
Paixão, do vô, paixão da vó,
a menina que nasceu de repente,
ela é o nosso presente.

De repente vida, de repente amor,
como um raio que desenha o céu,
sem previsão de chuva,
assim é a minha essência.

Dois anos depois,
a paulista vai ao Nordeste,
de repente nova casa,
de repente nova vida.

Saudades do vô,
saudades da menina.
Dizem que o vovô não é mais o mesmo,
dizem que sente falta de mim.

Aos quatro anos,
a menina vai ao Sul,
de repente nova casa,
simplesmente nova vida.

O vovô visita a menina,
tudo é lindo,
o parque florido,
o frio, o vento, os pássaros.

A garota vai à escola,
tudo é novo,
mas ele gosta.

A menina chega aos cinco anos,
e o vovô fica doente
e vai embora.

Voando no infinito espaço
do crepúsculo e amanhecer
de todos os seus dias,
seu corpo morre e sua alma sobe.

Tristeza em sua casa,
tristes são os seus dias,
anoiteceu a vida da menina.

Angústia no peito,
mas ela não sabe o que é angústia,
simplesmente diz que há dor no coração.

Os pais dela levam ao médico,
o coração da menina é saudável,
então todos percebem
que a menina tem dor na alma.

Procuramos todos os centros espíritas,
todas as missas, todos os cultos,
todas as igrejas, todos os templos,
todas as crenças, todas as respostas.

Buscamos todas as ciências,
todas as teorias,
toda a alopatia,
toda a homeopatia.

A menina não quer ir à escola,
a professora a castigou injustamente,
e seus colegas não são carinhosos.

A menina grita histericamente,
angustiada, angustiada,
deve ser arrastada até a escola.

Aos olhos da garota,
o ambiente recreativo é assustador,
como um monstro devorador de identidades
assim é a escola para os olhos dela.

Há crianças que nascem boas,
há crianças que nascem más,
sádicas e manipuladoras,
e a escola reúne todas.

Mas, o que é a escola,
 senão o espelho da sociedade?
E o que é a sociedade,
senão o espelho da humanidade?

A menina tem medo,
angústia, raiva, revolta,
pavor, pânico e desespero.

A menina é doce e sensível demais
para a amargura de toda aquela hostilidade.
Ser quem você é já basta
para ser alvo de perturbações
e "zoações" insanas de seus colegas.

Sua querida vó,
ajudava a levar a garota à escola.
A vó sempre dizia:
"Menina, escuta a vovó,
você está indo à escola,
e não ao matadouro."

"Para quê tanto medo?
Para quê tanto choro?
Um dia você ainda vai rir
de tudo isso."

Como um caminhão
atropelando o seu coração
era essa a sensação
que oprimia a garota.

Extremamente tensa,
extremamente na defensiva.
"Qual será a próxima vez
que minh'alma será ferida?"
Pensava a menina.

Ela não quer ser ferida,
ser apontada,
discriminada por qualquer motivo,
humilhada ou julgada,
ela só queria paz e amor.

Sua alma é feita de sonhos,
seu coração é um mundo próprio,
e, de algum modo, a sua fragilidade
ensinou-lhe muito sobre a força.

Chorando e gritando todos os dias,
vomitando em todas as vésperas de aulas,
seu coração tremia de medo,
medo da vida e das pessoas.

A garota é a criança que chora,
que faz escândalos por sentir desespero,
que tem a alma grande demais para a sua idade.
E, por isso, extravasa, dramatiza,
derrama o coração em lágrimas e artes.

Psicólogos e psiquiatras
diziam que a garota jamais conseguiria
frequentar a escola normalmente
ou ter uma psique saudável.

De algum modo, eu sei
que o Freud não sabe sobre transmutação
nem sobre raios que rasgam o céu
sem previsão de chuva.
Mas, minh'alma
é uma autêntica alquimia.

Apenas uma psicóloga e uma homeopata
acreditavam no potencial de alquimia
do coração daquela menina.

Além disso, professores bons
e funcionários escolares generosos,
foram colocados por Deus em seu caminho.
E a menina é muito grata por isso.

O amor incondicional da mãe da menina,
que tinha fé na força dela
o exemplo de força e dedicação do seu amado pai
ajudaram a tímida flor
a desabrochar em corajosa fortaleza.

E, de algum modo, o amor e a fé
venceram a psicologia e a ciência,
e, de algum modo, a força de vontade
foi maior que todos os monstros.

E, de repente, como um raio
que surge no céu sem previsão,
a menina renasceu.

Aquele que nunca se fere,
e vive como se nada tivesse dor,
não é forte, é distraído.

Aquele que não tem fragilidades,
não é forte, mas simplesmente bruto,
e jamais conhecerá a beleza da superação.

Mas, aquele cuja força
nasceu através da fragilidade,
superando a adversidade,
este é realmente forte.

De algum modo, eu sei,
eu sou forte como você,
e também tenho a sua generosidade,
só que a minha bebida é a poesia,
ela me embriaga de verdade.

De algum modo, eu sei
que o amor vence a ciência
e que alma é mais viva que o corpo.

Como um raio desenhando o céu,
sem previsão de chuva,
surpreendendo a todos,
assim é a minha essência.

Como um relâmpago,
que, de repente, clareia o céu,
mostrando a luz,
assim é a minha essência.

De algum modo, eu sei
que todos os seres humanos
são feitos de amor e força.

De algum modo, eu sei,
que a força é o amor,
meu nome é força,
meu nome é amor.

Tatyana Casarino

*Tradução do título e da estrofe em inglês:
De algum modo

De algum modo, eu sei
que eu sou como você.
De algum modo.
De algum modo.
























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