Eu vi um gato na janela,
seu nome era Tedy
e ele queria peixe.
Fechei a janela de vidro,
sem perceber o que estava a suceder:
Tedy já estava em meus braços.
Ele pediu colo e miou,
ele estava com frio e o meu calor ele pediu.
Ele não quer que eu entre na escola hoje.
Eu queria proteger Tedy em meus braços,
queria aquecê-lo confortavelmente
nessa zona de conforto encerrada por janelas.
Do lado de fora, pela janela eu posso ver
crianças correndo felizes
com suas mochilas nas costas
em direção à escola.
Mas, eu não consigo ir à escola hoje,
porque eu tenho que cuidar do Tedy.
O Tedy e eu personificávamos o medo,
nós éramos o medo, nós éramos a angústia.
Eu acolhia o medo em meus braços,
pois tinha medo da vida,
da vida lá fora que se passava pela janela.
Dentro de mim, eu estava confortável em minh'alma,
mas o medo me paralisava e fazia minh'alma sangrar,
o medo é um falso conforto que nos faz sangrar e chorar,
mas eu almejava intensamente poder sorrir lá fora.
Abandonei o Tedy dentro de casa,
e corri em direção à escola,
o vento do mundo exterior era frio,
castigava minh'alma e flagelava o meu corpo.
Chorei, sofri, sangrei,
agonizei e derramei centenas de lágrimas.
Lutei contra o vento do mundo,
abandonei meu lar e o Tedy,
mas venci e adquiri força.
Frequentei a escola, porque amava aprender
embora tivesse medo da vida e saudade do Tedy.
A maioria dos meus monstros existia apenas na minha mente.
Se eu não tivesse saído de casa, eu teria ficado doente.
A sala de aula, antes vista como um cárcere cinza,
hoje é um palácio rodeado por um arco-íris,
um arco-íris que não tem sete cores,
mas setenta e sete cores.
O vento do mundo não flagela mais o meu corpo,
mas acaricia minh'alma como uma brisa.
Ele não é mais frio, pois o calor da minha coragem
faz com que ele seja quente,
quente como a lareira do meu lar,
o lar onde mora o Tedy.
Hoje eu voltei para a casa,
vou contar ao Tedy que o mundo é bom
e que há muito peixe na lagoa.
Chegando em casa, eu vi um tigre imponente,
ao invés de um gatinho medroso.
Então eu levei um susto e perguntei:
"Cadê o Tedy?"
O tigre olhou profundamente em meus olhos,
reverenciou-me respeitosamente
e deitou-se sob meus pés.
Então, eu percebi que o Tedy
hoje tem alma de tigre.
Filosofando acerca do poema:
Os versos acima retratam a fobia escolar e social de modo poético e repleto de analogias e simbologias. O lar representado no poema é o mundo interior que através das "janelas" observa com medo o mundo exterior. O gato representa o contato com o mundo interior, com o nosso lado mais primitivo. Ele não quer sair da zona de conforto, não quer permitir que a garota saia.
Então, a garota trancada em si mesma, sente-se confortável, mas ao alimentar os seus medos e ficar enclausurada protegendo o gatinho, ela se sente mais angustiada e paralisada. Logo, ela resolve sair e enfrentar a escola e o mundo lá fora, vencendo seus medos.
Percebe, assim, que o mundo não é tão mal quanto parecia ser, e que ele pode ser um reflexo de nós mesmos, já que o vento outrora frio se transformou em uma brisa quente como a lareira de seu lar(mundo interno).
Será que o vento mudou? Ou será que a percepção dela sobre o mundo mudou? Já que o vento agora é uma brisa aquecida por sua coragem, seria o mundo espelho de nós mesmos?
Ao cumprir sua missão de encarar a vida exterior com coragem e determinação, a garota retorna vitoriosa ao seu lar com saudade de seu gatinho. Chegando lá, encontra um tigre, e percebe que o gato virou um tigre, ou seja, seu mundo interior é mais rico, seu medo se transformou em coragem, sua fraqueza em força e sua alma não é mais como a de um gatinho medroso, mas como a de um valente tigre.
Tatyana Casarino.
Para finalizar, a música "Eye Of the Tiger":
https://www.youtube.com/watch?v=ei2UDXHei1Y
"Tive a coragem, conquistei a glória
Percorri um longo caminho, agora eu não vou parar
Só um homem e sua vontade de sobreviver"
The Survivors - Eye Of The Tiger
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