A serpente negra rasteja
na inóspita floresta brilhante.
Nosso despertar é uma vida
que embeleza a alma como diamante.
Do outro lado do rio Ganges,
eu senti o sorriso de Shiva.
Naveguei entre pétalas formosas
e entre serpentes perigosas e coloridas.
Na noite fria da alma,
o cansaço me abateu.
Quase desisti de vencer e lutar,
mas o bem é mais forte que eu.
A beleza da flor antes de desabrochar
é formada pelo orvalho da coragem.
O amor vem coroado de lágrimas
e nossa mágoa é repleta de vaidade.
A beleza das doces pétalas
é um suspiro imenso de amor.
A vida que o vento leva
é um passado de dor.
Eu vi um espelho d'alma
pairando no rio Ganges.
Admirei meu reflexo como Narciso,
mergulhei nas águas do eu divino.
Eu vi um espelho de amor espiritual
refletindo a beleza de Taj Mahal.
Na Índia, sinto o amor no ar,
o amor que faz a alma flutuar.
Sentimos os desabafos do vento
que contam histórias do passado.
Não somos mais os mesmos
desde que sentimos esse retrato.
O desapego dá liberdade à alma,
a alma leve já não tem vaidade.
Tudo é compreensão e verdade,
um suspiro de doçura e bondade.
E a energia volta para a alma
como as estrelas voltam para o céu.
As trevas tão melancólicas e cansadas
deram espaço para a nova alegria estrelada.
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
Essa é uma poesia mística com referências ao hinduísmo e ao conhecimento da espiritualidade indiana. Para a espiritualidade hinduísta, Shiva representa o deus regenerador da energia vital. Em suas imagens, Shiva é visto carregando uma serpente em seus ombros, o que simboliza o domínio sobre a morte e a regeneração.
A serpente vive trocando de pele, razão pela qual é o arquétipo da superação, da sabedoria e da transmutação quando abandonamos o passado, superamos as nossas dores e seguimos em frente com mais sabedoria.
Na Medicina, por exemplo, o símbolo da serpente representa o antídoto, a cura e o remédio. No nível espiritual, a serpente representa a cura espiritual através de uma nova sabedoria, uma astúcia voltada para o bem.
Diferentemente do simbolismo ocidental, onde a serpente é mais vista como símbolo de traição e personificação do mal, o oriente vê o simbolismo da serpente com bons olhos ao identificar esse animal como o arquétipo da boa astúcia, da sabedoria, do despertar espiritual e até mesmo da energia vital (a energia Kundaliní significa enrolada como uma cobra em sânscrito).
Certa vez, sonhei com uma serpente preta e branca saindo do meu closet. Ao acordar, passei a ver símbolos indianos em todos os lugares -- ilustrações de livros, palestras, vídeos e etc. Entendi aqueles sinais como recados espirituais para buscar sabedoria no caminho da espiritualidade indiana. "Bebi" da fonte da sabedoria indiana um pouco e passei a fazer Yoga. Essa parte da filosofia oriental que carrego comigo trouxe mais flexibilidade e leveza para a minha vida.
Tatyana Casarino.
*Dica de livro: A Tradição do Yoga -- História, Literatura, Filosofia e Prática. Autor: Georg Feuerstein.
*Dica de Playlist: Indiana Espiritual no perfil tatycasarino-br do Spotify.
*Dica de música para ouvir enquanto lê a poesia:
Dharawi Nights - Secretpath.
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