Olá, pessoal! Tendo em vista o sucesso dos textos que fazem análise das histórias da Disney aqui no Recanto da Escritora (desde análises astrológicas, místicas até as análises literárias e psicológicas), hoje venho trazer mais um texto de reflexão profunda acerca dos filmes da Disney (desta vez retratando os seus principais heróis de acordo com o autor da postagem).
Pensavam que a Disney era superficial e mera contadora de histórias infantis? Sempre estiveram enganados então. Os contos de fadas e a fantasia são os responsáveis pelas histórias mais profundas e mais ricas em símbolos e arquétipos dentro de nossa literatura e do cinema. Com o olhar adulto, culto, atento, analítico, contemplativo, profundo e bem-humorado, o autor desta postagem descreve os dez maiores heróis da Disney consoante a sua percepção.
Tenho certeza de que vocês se identificarão com algum desses heróis, eis que o ser humano compartilha das mesmas emoções de dor, amor, bravura , medo e honra diante da jornada da vida repleta de obstáculos. A vida de todo mundo é uma jornada típica de herói. Sendo assim, este texto despertará o seu herói interior. ;)
O autor desta postagem é o escritor Mateus Ernani Heinzmann Bulow. Escritor que admiro e que tive a honra de acompanhar a sua jornada heroica na literatura. Tenho certeza que ele colherá ótimos frutos nessa jornada. Quais são as suas jornadas heroicas, leitores? Vocês têm coragem de enfrentar bravamente a jornada dos seus sonhos? Percepções acerca dessa postagem e comentários sobre o assunto serão bem-vindos. :)
Confiram!
Sobre esta lista:
Um velho ditado do alpinismo afirma que as montanhas
estão lá para serem escaladas, mas alguém necessita dar o primeiro passo rumo
ao topo. E assim nascem os heróis, forjados essencialmente nas situações mais
adversas, e também no ímpeto de seguir em frente, não se dobrando ao caminho,
mas se adaptando a ele.
Talvez por vontade de oferecer uma compensação pela
lista dos dez maiores vilões, decidi fazer esta coletânea de heróis. A presente
lista conta com dez personagens criados pela Disney, baseados em contos e
histórias anteriores, bem como criações originais do próprio estúdio, e todos
se assemelham em um ponto comum: A superação de obstáculos na forma de uma
jornada, seja para salvar a tudo e a todos, seja para salvar a eles próprios.
Seu caminho pode ser movido pela honra, dever, reconhecimento, ou simples
desejo de aventura.
Alguns critérios foram adotados para realizar a
presente lista: Apenas personagens das animações tradicionais foram listados, e
o tamanho do desafio enfrentado, bem como a mudança interior do personagem,
deve ser considerado, afinal é isto o que faz uma jornada de herói ter um significado
a mais. Como curiosidade adicional, algumas princesas da Disney estavam
previstas em um projeto original desta listagem, mas como um ranking delas será
realizado futuramente, deixei-as de fora, ao menos por enquanto.
Como de praxe, deixo bem claro que o seguinte texto
conta com spoilers de diversos filmes, e também de que se trata de uma opinião
pessoal, com sugestões bem vindas nos comentários. Seja um príncipe, um
cientista, um garoto de rua, ou mesmo um semideus, apenas você mesmo pode
cumprir com seu caminho e fazer o seu destino. Foi o que estes heróis fizeram.
E você, está preparado?
10 – Príncipe Felipe.
Filme: A Bela Adormecida.
Ok, eu admito, A Bela
Adormecida está longe de ser minha animação favorita da Disney, até porque
apesar do esforço em desenvolver alguns personagens, este não atingiu a todos
eles. Aurora não possui muita personalidade, e mesmo o seu par romântico parece
apagado diante das três fadas e de Malévola. Entretanto, isto não significa que
Felipe seja um personagem irrelevante, muito pelo contrário: Ele foi o primeiro
príncipe da Disney a tomar o caminho das armas e partir para o combate. E ao
velho estilo medieval, de espada em punho.
Em comparação com outros
príncipes contemporâneos, Felipe possui atributos físicos que o tornam um dos
melhores lutadores do universo da Disney, além de ser o primeiro filho de um
monarca a ter o seu nome devidamente registrado. Claro que ele precisou de uma
ajudinha extra das três fadas madrinhas, na forma de uma espada mágica e um
escudo encantado, mas isto não diminui seus méritos, afinal uma arma não serve
para nada sem alguém para empunhá-la, e a disposição em enfrentar Malévola e
seus capangas o moveria em frente, rumo ao resgate de Aurora e seu reino.
Seria uma redundância afirmar que a imagem de Felipe
rumo ao combate de espada em punho teve inspiração direta em São Jorge, o santo
guerreiro matador de dragões. A figura do príncipe guerreiro teria diversas
variantes na cultura popular, mas uma delas possui clara inspiração no príncipe
da Bela Adormecida: O segundo jogo da série Legend of Zelda, chamado Link
Adventure, teria diversas inspirações tanto no conto original como na versão da
Disney, com o herói procurando por uma espada e um escudo, ambos encantados, no
resgate de uma princesa adormecida. Por representar o arquétipo da jornada do
herói em sua forma essencial e simples, Felipe merece um lugar na lista.
9 – Pinóquio.
Filme: Pinóquio.
Diferentemente de Felipe,
Pinóquio não é um lutador capaz, e em diversas cenas ele sofreu muito nas mãos
de diversos malfeitores, como Stromboli e João Honesto. Entretanto, isso não
exclui o fato de que o boneco criado por Gepeto necessitava cumprir com seu
destino de virar um menino de verdade. Seguindo o caminho da boa conduta (como
diversos desvios, é verdade), Pinóquio receberia sua recompensa, mas não sem
passar por muito sacrifício, sofrimento e trabalho duro.
Enquanto boa parte dos heróis precisa lidar com
dragões, bruxas e monstros, Pinóquio teve de se virar com algo talvez mais
terrível: A mesquinhez humana. Contando apenas com a orientação do Grilo
Falante, o qual ele nem sempre se permitia ouvir, o boneco de madeira tinha de
sobreviver em um mundo miserável, onde a exploração alheia era a norma. Para
tornar sua jornada mais difícil, Pinóquio tinha pouca ou nenhuma noção de moral
e conduta, e durante boa parte do filme, ele teve de aprender na marra a se
defender.
O
clímax da jornada de Pinóquio ocorreria após sua fuga da Ilha do Prazer:
Disposto a reencontrar Gepeto, o boneco se atirar ao mar, em busca de Monstro,
a baleia temida por todos os peixes e navegadores. Após resgatar seu criador do
estômago da fera e despistá-la de vez, Pinóquio cai desacordado na praia, e é
levado para casa, onde ele finalmente se redime dos seus erros e se torna um
menino de verdade. Por mostrar que uma jornada é composta de diversos momentos
ruins, porém possíveis de serem superados com muito esforço, Pinóquio merece um
lugar nesta lista.
8 – Kuzco.
Filme: A Nova Onda do
Imperador.
A presença desse sujeito
provavelmente pode ter surpreendido aos leitores, afinal Kuzco, o arrogante e
atrapalhado imperador inca está longe de ser um exemplo. A sua extrema
megalomania chega até mesmo ao ponto de tentar construir um parque temático em
sua própria homenagem, justamente onde Pacha e sua família moram! Isso,
entretanto, mudaria radicalmente após Yzma, a ambiciosa conselheira real,
transformá-lo em uma lhama.
Expulso do palácio, e obrigado a contar com a ajuda
de Pacha para retornar ao trono, bem como à sua forma humana, Kuzco seria
exposto a diversos obstáculos pelo caminho, como montanhas, pontes malfeitas,
selvas e cachoeiras (provavelmente ele decidiu investir mais na infraestrutura
do império após essa louca viagem...). Após essa louca jornada, ele aprenderia
o valor da humildade e do respeito aos seus cidadãos.
Apesar de ter um porte atlético
e de possuir vigor juvenil, Kuzco não é propriamente um lutador ou explorador,
e se não fosse pela ajuda prática e moral por parte de Pacha, não teria chegado
muito longe. O camponês de certa forma age como uma figura paterna para o
monarca adolescente, algo que ele aparentemente não teve durante sua infância
(Será que Yzma esteve envolvida no desaparecimento de seu pai?). Por demonstrar
que uma jornada de herói também se trata de uma busca pela própria redenção,
Kuzco merece aparecer na lista.
7 – Hércules.
Filme: Hércules.
Ter força física quase
ilimitada pode tornar uma jornada épica um pouco menos difícil em alguns
aspectos, mas ser um herói não é algo que ocorre da noite para o dia. Hércules,
o filho do todo-poderoso Zeus, aprenderia essa lição junto aos mortais, como
são chamados os humanos na mitologia grega. Devido a uma artimanha de Hades, o
rei do submundo, Hércules é levado para longe do Olimpo, ainda bebê, e é
ocasionalmente encontrado por um casal de agricultores mortais.
Embora conte com uma trama completamente inventada,
se desviando em diversos aspectos da mitologia original do legendário semideus,
o Hércules da Disney conta com vários méritos próprios. É interessante notar
como o crescimento de Hércules entre os mortais é bastante parecido com o de
Clark Kent, o Superman. Ambos possuem muita força física, e isto causa diversos
problemas no seu convívio diário. Ambos vieram de lugares muito distantes,
praticamente inalcançáveis pelos humanos comuns, mas foram criados e educados
por famílias humanas. E talvez o mais importante: Ambos decidiram utilizar suas
habilidades em nome da defesa de quem não pode lutar para se defender.
Hércules demonstraria várias
vezes o seu poder e suas habilidades. Seja sobrevivendo ao duro treinamento de
Filoctetes, libertando Megara de um centauro, ou encarando a temível Hidra de
Lerna (eu gosto muito do confronto contra a Hidra, e não conseguiria falar de
Hércules sem tocar nessa cena incrível!), o semideus triunfaria sobre todas as
dificuldades, e até mesmo faria sucesso, tornando-se famoso. Zeus reprovaria
essa atitude, lembrando-o de que existe uma diferença muito grande entre ser e
parecer algo.
No terceiro ato do filme, Hércules começa a sentir os
efeitos da mortalidade, e isto leva a uma cena memorável (e pavorosa) no poço
das almas de Hades. Ali, ao resgatar a alma de Megara, e despachar o próprio
deus do submundo, Hércules descobre, enfim, o significado de ser um herói. Por
demonstrar que mesmo o mais poderoso guerreiro não seria nada se não houvesse
uma causa justa para lutar, Hércules está em sétimo lugar na lista.
6 – Milo Thatch.
Filme: Atlantis, o Reino
Perdido.
Se Hércules se destacava por
sua força e seu poder, o mesmo não pode ser dito do nosso sexto colocado.
Desajeitado, magricelo e socialmente inapto, Milo James Thatch, neto de Thaddeus
Thatch, não é um guerreiro poderoso e muito menos um atleta, mas é o pivô
inicial da busca por Atlântida.
Milo é provavelmente o protagonista de um filme da
Disney a ter o maior número de empregos: Linguista, cartógrafo, arqueólogo e
operador de caldeira. Apesar de não contar com a força física e com a valentia
necessária a um explorador, Milo é imbuído de muita sede de aventura e
descoberta, além do Diário do Pastor, praticamente um “guia completo” a
respeito do Reino de Atlântida. Se a exploração do fundo do oceano pudesse ser
comparada com uma viagem ao litoral com os amigos em um final de semana
tranquilo, Milo certamente seria o “co-piloto” do time, responsável por ler o
mapa.
O deslumbramento inicial de
Milo com a descoberta de Atlantis logo daria lugar a uma luta pela
sobrevivência do próprio reino: Após a inesperada traição de Rourke e sua
equipe de mercenários, o cientista teria de assumir o papel de liderança,
subitamente vago após a morte do rei de Atlantis. Com a ajuda dos cristais de
energia e das máquinas controladas por tal estrutura cristalina, Milo e seus
amigos trariam Kida de volta, não sem enfrentar uma luta aérea especialmente violenta.
Existem alguns aspectos interessantes no que dizem
respeito à concepção original de Milo e seu papel no filme: Em um dos roteiros
originais de Atlantis, o rapaz seria descendente de um pirata, o que explicaria
parcialmente o seu desejo por aventuras e descobertas. Isso seria removido e
substituído pela influência de seu avô, também arqueólogo, o que considero uma
decisão acertada, afinal os piratas viajam em nome do saque, justamente o
objetivo final de Rourke e sua equipe. Por auxiliar a ciência contra a ganância
desmedida, e demonstrar ser capaz de liderar Atlantis em um momento de grave
crise, Milo merece estar na lista.
5 – Fera/Príncipe Adam.
Filme: A Bela e a Fera.
Apesar de Belle ser a
protagonista da Bela e a Fera, o personagem marcado pela jornada do herói se
trata de Adam, o príncipe transformado em um monstro por uma desfeita. Por
recusar a oferecer auxílio a uma idosa que lhe ofereceu uma rosa como
pagamento, Adam se arrependeria amargamente: Se tratava de uma fada, que lhe
transformou em uma criatura estranha como castigo (sempre achei essa punição um
tanto exagerada, digna da feiticeira Malévola em seus piores dias, mas
enfim...). Como ele se livraria dessa maldição? Apenas com Adam aprendendo a
amar, antes de todas as pétalas da rosa caírem. Mas e quem amaria uma besta
feroz e assustadora como ele?
A resposta viria de forma inesperada, na figura de um
viajante perdido, e mais tarde, de sua filha. O contraste entre a garota e o
estranho ser é apresentado de forma imediata: Em comparação com os gestos suaves
e delicados de Belle, Adam é ligeiro e feroz, o que apesar de ser um reflexo de
sua maldição, se provaria útil em uma luta contra lobos que ameaçavam a garota,
e também na luta contra Gaston. Com o convívio mútuo, ele suavizaria boa parte
de seus traços mais brutos, chegando até mesmo a adotar roupas finas e um
palavreado mais polido e educado.
Em combate, pode ser dito que
suas duas formas (humana e monstro) se diferenciam em vários aspectos: Adam era
um caçador experiente no uso de armas de fogo quando era um humano, enquanto em
sua forma de criatura ele é praticamente uma força da natureza movida pela
fúria, embora seus trejeitos agressivos também fossem reflexos de sua maldição.
Uma comparação possível nos quadrinhos seria o Incrível Hulk, e tal contraste
entre força e delicadeza foi explorado no segundo filme dos Vingadores, com o
romance inesperado entre Bruce Banner e a Viúva Negra. Assim como o Doutor
Banner, Adam também era um leitor ávido, como provava sua vasta biblioteca, mas
abandonou o hábito de leitura, devido à dificuldade de virar as páginas dos
livros com suas mãos transformadas em patas.
Existem alguns fatos curiosos a respeito de Adam a
respeito das diversas adaptações de A Bela e a Fera: Seu nome verdadeiro seria
utilizado pela primeira vez em um musical, e na dublagem chinesa, a sua voz foi
feita por ninguém menos que Jackie Chan, o famoso ator de artes marciais. Por
demonstrar que uma jornada em busca de sua própria redenção muitas vezes
necessitará de mais pessoas em seu caminho, Adam está nessa lista.
4 – Tarzan.
Filme: Tarzan.
Um casal escapa de um
naufrágio na costa da África, mas não sobrevive ao ataque de um leopardo,
restando apenas seu filho, um bebê encontrado por uma fêmea de gorila cuja cria
também foi devorada pela mesma fera selvagem. Assim começa a história de
Tarzan, o homem branco criado entre as feras, e assim como Hércules, Tarzan foi
encontrado e educado por uma família adotiva, desconhecendo sua origem durante
muito tempo, além de se adaptar ao seu modo de vida.
Como seus pais adotivos eram gorilas, sua adaptação
ao grupo foi muito mais difícil, em especial por parte da recusa de Kerchak, o
líder do bando, em reconhecê-lo como seu filho. A primeira etapa na mudança de
posição por parte do severo chefe do bando ocorreria com Tarzan chegando à vida
adulta: Após o humano derrotar Sabor, o terrível leopardo que aterrorizava a
todos os gorilas, Kerchak finalmente o reconheceu como um deles, não sem alguma
relutância (particularmente, gosto muito dessa cena de combate, quase tanto
quanto a luta de Hércules contra a Hidra).
A evolução de Tarzan ocorreria
de forma abrupta e inesperada, com a chegada de uma expedição de cartógrafos e
antropólogos ingleses: Após salvar a cientista Jane de um bando furioso de
babuínos, e ser apresentado às maravilhas da modernidade e da tecnologia,
Tarzan entra em um confuso processo de autoconhecimento e dúvidas quanto ao
caminho a ser seguido. Ele não era um gorila, mas tampouco poderia viver entre
os humanos, após tanto tempo longe da civilização. Se quisesse abraçar um lado,
teria de abandonar o outro (Peri, o guerreiro goitacá de O Guarani, certamente
discordaria de tal situação, afinal conseguia se mover bem entre a vida na
selva e o convívio com os portugueses...).
Em suas lutas, Tarzan é um verdadeiro especialista no
uso do terreno, movendo-se por entre as árvores e a vegetação com a
desenvoltura de um praticante de Parkour, chegando até mesmo a “surfar” nos
galhos das árvores. Como armas, o então denominado “gorila branco” possuía uma
lança com ponta de pedra (reduzida a uma simples adaga, após o combate contra
Sabor), embora se apoie muito mais em sua própria força e agilidade para lutar,
e essa mesma criatividade para se deslocar pelo terreno acidentado da selva o
auxiliaria no terrível combate final contra Clayton. Por demonstrar que muitas
vezes a jornada de um herói se faz entre dois mundos aparentemente opostos,
Tarzan está em quarto lugar.
3 – Aladdin.
Filme: Aladdin.
Na cidade árabe de Agrabah, o
burburinho dos mercados é entrecortado de forma súbita pelos gritos de “pega
ladrão!”, seguido de um estrondo causado pelos tropeços dos guardas troncudos e
desajeitados. E então o ladrão aparece, com uma risada de triunfo, segurando o
objeto furtado (um pedaço de pão), e simplesmente some no meio da multidão,
para a frustração dos guardas e o deleite de alguns transeuntes, maravilhados
com a sua incrível agilidade.
Aladdin, o jovem ladrão órfão das ruas de Agrabah,
está longe de ser um exemplo de pessoa, afinal vive de pequenos furtos nos
bazares da cidade, embora o faça apenas com o objetivo de sobreviver, e muitas
vezes também divida o seu furto com outros meninos de rua mais jovens. A vida
nas ruas o tornou ágil e sagaz para sumir sem ser visto ou deixar rastro, e tais
características não passaram despercebidas por Jafar, cujos esquemas em nome do
poder logo envolveriam, em suas próprias palavras, um “diamante bruto”.
A fonte original da inspiração
para o Aladdin da Disney é basicamente a mesma do conto original nas Mil e Uma
Noites, com poucas diferenças significativas entre ambos os personagens.
Enquanto no conto original, Aladdin era um simples ladrão e podia contar apenas
com sua malandragem para sobreviver, no filme de 1992, o rapaz muitas vezes usa
a sua própria força física, além de lutar com destreza ao empunhar uma espada,
oferecendo um desafio razoável a Jafar, mesmo transformado em serpente gigante.
Um dos temas trabalhados com esmero no filme de 1992
é a questão da identidade própria: Ciente de que nunca poderia se aproximar de
Jasmine sendo um morador de rua, Aladdin assume a identidade de Ali, príncipe
de uma nação distante, apenas para a princesa de Agrabah revelar reconhecê-lo
de qualquer forma. Temeroso de perdê-la, o rapaz quebra sua promessa inicial de
libertar o Gênio com seu terceiro pedido, o que levaria a uma tragédia, com
Jafar tomando a lâmpada para si, e apenas a esperteza do ladrão, combinada com
o desejo obsessivo de poder por parte do vizir, salvaria o dia mais uma vez.
Por demonstrar o conflito entre “ser” e “desejar ser algo mais”, Aladdin está
em terceiro lugar.
2 – Simba.
Filme: O Rei Leão.
Nem sempre um destino traçado
a partir de seu nascimento e de seu sangue definirá seu lugar no futuro, mesmo
quando se é filho de um rei. Simba, o enérgico e corajoso herdeiro de Mufasa e
Sarabi aprenderia esta lição a duras penas, antes de assumir o trono das Terras
do Orgulho. Nosso único representante não humano na lista (lembrando de
Pinóquio virou um menino de verdade, e Kuzco foi uma lhama apenas durante
alguns dias) é definido por seu próprio nome: A palavra “Simba” significa
simplesmente “Leão” em suaíli, uma língua comum na costa leste da África.
Como único filho de Mufasa, Simba teria algum dia de
assumir seu lugar como o líder de todos os animais das Terras do Orgulho (Pride Lands, no original em inglês), mas
sua personalidade agitada e impaciente muitas vezes o levava a tomar atitudes
precipitadas e a se arriscar em empreitadas perigosas. Sua vontade de provar
sua coragem se devia também ao desejo de se igualar ao seu pai, do qual nutria
grande admiração.
Após um estrategema de Scar
causar a morte de Mufasa, Simba foge das Terras do Orgulho, por acreditar ser o
culpado pela tragédia. No entanto, o destino o levaria a conhecer Timão e
Pumba, o qual seriam seus “tutores” durante sua adolescência, até o início da
vida adulta, quando o reencontro com Nala e os conselhos de Rafiki o motivariam
a lutar pelo trono e desafiar Scar de uma vez por todas.
A inspiração original do Rei Leão se trata de Hamlet,
talvez a mais violenta história escrita por Shakespeare, onde um príncipe
dinamarquês busca vingar a morte do pai, causada por seu tio. No entanto,
existem diversas semelhanças entre a saga de Simba e o Épico de Sundiata, o Rei
Leão do Mali. Assim como Simba, Sundiata era um príncipe exilado, devido à
conquista do Mali pelo feiticeiro Sumanguru do Império de Sosso, e apenas
depois de adulto retornaria à sua terra para se vingar e restaurar sua nação.
Uma curiosidade adicional sobre o Rei Leão está no
período de tempo dispendido entre o começo e o final do filme, começando com o
nascimento de Simba e passando por sua infância até o início da vida adulta. Devido
a isto, tanto a infância como a vida adulta de Simba são igualmente importantes
na narrativa. Por demonstrar que um herói está em construção e reconstrução
constante, mesmo após o fim da jornada, Simba está em segundo lugar.
1 – Quasimodo.
Filme: O Corcunda de Notre
Dame.
E chegamos ao final da lista
com um personagem destoante em diversos aspectos da tradicional figura do
herói: Quasimodo, o recluso tocador de sinos da catedral de Notre Dame não é
atraente, não é infalível, e também não ficou com a mocinha no final da jornada,
mas é um dos maiores heróis do universo Disney, justamente por superar estes
obstáculos.
Encontrado por Frollo, e salvo por um monge superior
a este, Quasimodo passou a maior parte de sua vida escondido na catedral, e
quando não trabalhava na manutenção e nos toques dos sinos, se distraía fazendo
miniaturas de edificações e pessoas da cidade. Suas únicas companhias durante
esse período foram três gárgulas falantes. Uma teoria afirma que tais imagens
vivas eram na verdade apenas imaginação de Quasimodo, como efeito de sua solidão,
no entanto, a participação ativa das divertidas figuras de pedra na defesa da
catedral no terceiro ato do filme anula essa tese.
Por influência das gárgulas,
Quasimodo finalmente aparece aos olhos dos cidadãos de Paris, durante o
“Festival dos Bobos” (o equivalente do carnaval da era medieval), e quando os
moradores decidem atacá-lo, Esmeralda o defende. Após muita confusão e
perseguição por parte dos guardas de Paris, o corcunda e a cigana se vêem obrigados
a se esconder na própria catedral. Mais tarde, Febo seria resgatado pela cigana
e ambos se escondem na catedral, e apesar de frustrado pela declaração de amor
de ambos, ele continua a lutar pelos ciganos, mesmo indo contra seu mestre.
No livro original de Victor Hugo, Quasimodo era um
personagem ainda mais trágico, em todos os sentidos: Não apenas era corcunda,
como também era surdo e mal conseguia se comunicar usando palavras. Talvez o
traço físico melhor preservado da passagem do material original para o filme
animado fosse sua notável força física. No filme, o corcunda é capaz de
levantar Febo sem nenhum esforço, apesar de este trajar uma armadura, e também
consegue arrebentar as correntes que o prendiam nas pilastras da catedral. Sua
habilidade ao escalar também é notável, talvez igualada à de Tarzan.
O maior desafio de Quasimodo no fim das contas estava
mais próximo do que ele poderia imaginar: Devido à influência perniciosa de
Frollo, que apresentou o mundo ao seu “pupilo” como um lugar duro, escuro e
cruel, o corcunda levaria algum tempo até sair da “caverna de Platão” e a
buscar o conhecimento, e com ele a libertação. Por lembrar que uma jornada
sempre implicará movimento e saída da zona conhecida, e também por enfrentar a
própria corrupção de uma sociedade marcada pela intolerância, Quasimodo merece
o primeiro lugar da lista dos heróis da Disney.
Mateus Ernani Heinzmann Bulow.
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