O caderno digital de Tatyana Casarino. Aqui você encontrará textos e poesias repletos de profundidade com delicadeza.









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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Noites sem estrelas



Ando pelas ruas
como se o medo fosse tudo.
A cada homem que passa,
vejo pares de olhos nocivos
de potenciais violentadores.

A cada esquina, um possível ladrão.
A cada beco, um torturador.
A cada rua, há um sequestrador.
Cuidado! Assalto na rua de cima.

Protejam vossos filhos
do perigo da vida.
A vida é má e perigosa
para quem não conhece.

Segurem vossas bolsas,
há um maníaco na rua de baixo.
Chamem a polícia,
queremos justiça.

O barraco é o leito do palácio.
Os impostos sempre pesados demais,
as mães desesperadas,
os pais cansados,
os filhos desprotegidos
ou protegidos demais.

Uma rosa numa redoma
é sempre (des)protegida demais
para tamanha crueldade mundana.

Não estrague a tua vida,
tentando vivê-la.
Então, estrague com pílulas
para a nossa hipocrisia.

Fala a verdade ou cala-te,
cala-te na rua do nada.
Hoje o ladrão não me roubou,
 o assassino não me matou,
o perverso não me violentou,
mas o medo destruiu-me.

O medo assalta, rouba,
furta, violenta,
assassina e enterra
sonhos, esperanças,
luzes de glória
da terra do Poderia Ser.

Vivemos a Terra do Medo,
consumimos inglórias medrosas
das noites sem estrelas.

Um amigo tornou-se um potencial inimigo.
um amor tornou-se um perigo,
a vida tornou-se morte
de tanto temer o mal.

Argumento sem sentido,
puxo a cadeira e escrevo.
A escrita é muda,
alivia os meu pensar acelerado
e faz da minha crítica poesia.

Eu poderia simplesmente
discutir com você durante horas.
Ao invés disso, eu escrevo,
porque a minha fala é insuportável,
mas a minha escrita é razoável,
e você só lê se quiser.

Na cidade do pânico,
o mundo está prestes a engolir
aquilo tudo que restou da gente.

Na cidade do pânico,
a voz se cala, os pés voam,
as mãos tremem,
as pessoas são perigosas.

Os amigos são inimigos,
o amor é sempre um perigo,
a vida é sempre morta,
o medo rouba as horas.

Poema de Taty Casarino.

*Imagem: Pintura "Noite estrelada"de Van Gogh.

* Esse poema é uma crítica à violência urbana e à cultura do medo. O título do poema "Noites sem estrelas" tem um choque com o título da obra de Van Gogh "Noite estrelada" para demonstrar que o medo rouba as estrelas da vida, destruindo as nossas esperanças e levando-nos à cultura do pânico.

   As nuances da pintura de Van Gogh e o movimento expressivo deixam a impressão de que a cidade está "tremendo", sensação típica de quem está em pânico como se a velocidade do medo dentro da mente estivesse representada na realidade.

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