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terça-feira, 11 de outubro de 2011

A Mecanização da Educação

Nunca vou me esquecer do dia em que assiti pela primeira vez o filme "Tempos Modernos" estrelado por Charles Chaplin, onde o seu personagem tenta sobreviver ao mundo moderno e, depois, adquire um colapso nervoso por trabalhar de forma "escrava".

Quando a professora de filosofia do meu colégio nos mostrou o filme, ela queria nos fazer refletir acerca da alienação dos trabalhadores em relação a ideologia capitalista dos burgueses, a qual havia sido criticada por muitos filósofos como, por exemplo, Karl Marx ao difundir o comunismo.

Na época, nossa turma do ensino médio refletiu com a professora de filosofia sobre a forma mecanizada de trabalho propagada a partir da revolução industrial, a qual não permitia que os trabalhadores efetuassem a arte de pensar devido ao trabalho imensamente técnico e cansativo.

Logo, a ausência de pensamento acarretada nessas circunstâncias propiciou que os trabalhadores se alienassem às ideologias dominantes, não rompendo esse "status quo" de desigualdade entre empregado e empregador.

É cabível se fazer uma analogia do trabalho mecanizado da modernidade em relação a situação de nossa educação hoje. Ensina-se às crianças muito sobre o mundo que as cerca e pouco sobre a arte de pensar e de se autoconhecer, o que é muito perigoso, pois, sem a arte do pensamento, a criança pode se tornar um adulto alienado e pouco expressivo que só sabe "regurgitar" as teorias que decorou.

Além do mais, essa forma mecanizada de educação com pouca participação do aluno e supressão do ensino à formação do espírito crítico reflete não só no futuro das crianças e dos alunos, mas de todo o meio social.

A sociedade necessita de novidades, avanços, novas teorias e novos conceitos para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes. Tendo em vista a necessidade de inovação social, como a conseguiremos se só ensinarmos aos alunos a decorar velhas teorias?

É claro que não podemos fugir do dogmático, memorizar certos conhecimentos é inevitavelmente importante. É também sabido que a educação evoluiu, assim como a pedagogia, e que, felizmente, há um aumento na participação do aluno em sala de aula.

Mas, o verbo principal da educação clássica continua sendo o verbo "decorar", pois essa tem o intuito restrito de fazer com que o aluno "regurgite" as teorias. Deve-se abranger o intuito da educação para torná-la mais rica.

A memorização de certos conceitos não deve ser um fim em si mesma, mas um pressuposto para fornecer ao aluno bagagem cultural e servir de inspiração para que ele possa produzir suas próprias teorias baseadas na aliança entre a memorização e o espírito crítico.

Quando a memorização de conceitos se une ao pensamento crítico, nasce o aprendizado. Aprender é justamente isso: ter conhecimento de um assunto e poder extrair uma opinião acerca dele.

Se o aluno não conseguir extrair uma opinião crítica própria acerca de algo, ele não "aprendeu" sobre esse assunto, por mais que ele tenha "decorado". Essa é a diferença entre decorar e aprender: aprender tem espírito crítico, decorar é a memorização pura e simples, ou seja, isenta de qualquer reflexão.

Se a educação basear seu foco no verbo decorar e não no verbo aprender, ela vai continuar mecânica e rejeitada por boa parte dos alunos. O divertido do aprendizado é a ferramenta que ele fornece para formar nossas próprias teorias e fundamentá-las.

Ele (o aprendizado) nos torna mais conscientes, mais cidadãos. A memorização pura e simples, a qual tem de ser repetida mecanicamente pelo aluno sem viés crítico, se torna técnica demais e se distancia do aluno por tratar-lhes meramente como "papagaios" de repetição e subestimar o potencial criativo que habita em cada aluno.

Talvez a importância da filosofia nos colégios seja a de auxiliar a educação no grande desafio de juntar a técnica da memorização com a formação do espírito crítico de seus alunos. A filosofia está arcando com a grande responsabilidade de introduzir cada vez mais um ensino de viés crítico e reflexivo.

Tive o privilégio de ter aulas com professores que faziam questão da participação dos seus alunos em sala de aula, e que tratavam seus alunos com dignidade por nos enxergar como seres humanos críticos e não como papagaios. Infelizmente também já frequentei aulas que possuiam o mero intuito de fazer os alunos decorarem mecanicamente algo.

O que eu aprendi, eu vou levar para toda a vida, mas o que eu meramente decorei certamente eu esquecerei.

Deve-se sempre ter em mente que cada aluno é um novo cidadão pronto para atuar no meio social. Não podemos fugir da memorização, mas também não podemos nos esquecer de refletir a cada conhecimento adquirido. Uma educação baseada ao mesmo tempo na técnica e na reflexão será equilibrada e promoverá um avanço social.

Taty Casarino




































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