A sina é cair sempre,
de tempos em tempos,
em lamentos e lamentos,
sem as tréguas dos anjos.
Eu escolhi vir aqui,
e não foi por acaso a queda.
Quero ser a justiceira brava
e não uma santa de fé cega.
Meu destino é sentir o amargo,
minha sina é tomar as minhas lágrimas
tão salgadas quanto azedas
para, depois, brindar a bílis negra.
Eu amo demais a vida
para desistir dela tão bela.
A beleza não combina com a morte,
agarro-me à ternura da queda.
Eu sou a filha da revolta,
forjada no fogo do caos.
Eu sou filha da lágrima
que quer ser vista e ouvida.
Assim como Zaqueu sobe na árvore,
eu subo na copa florida mais bela.
Fujo das agressões da vida incerta,
olho para o semblante do Mestre dela.
Eu sou filha da revolta,
e admiro o seu sangue quente.
Queria ser um guerreiro na guerra,
mas sou sua filha melancólica e terna.
Meu temperamento está no meio.
Não é fleumático para se resignar
nem colérico para rir e brigar.
Sou melancólica e devo chorar.
Por que a vida nos prende
em correntes pesadas e invisíveis?
Por que a vida está estagnada?
Por que o romance não rende?
Não me exija, Pai, o sacrifício.
Amo o Seu Filho e a Sua Palavra,
mas nunca serei uma santa passiva.
Corre, em mim, o veneno da ira.
Nosso destino não deve ser
só chorar, suportar e sofrer.
Ser cristão também é sorrir,
tomar vinho milagroso e florescer.
Onde está o prazer de viver?
Eu sei que ser feliz não é pecado.
Mas, o demônio da grande tristeza
está disfarçado, no deserto, de ser alado.
Eu sei que o Senhor me fez diferente,
fez meu corpo, modelou minh’alma.
O Mestre das almas é muito sábio
e não quer os filhos iguais e doentes.
Por que não é permitido ser grande
nem pretender o ouro da criatividade?
Ao menos, recebi a permissão celeste
de ir à Igreja com os sapatos vermelhos.
A divindade não erra, não erra,
Eu danço livremente na Igreja,
danço, danço, e sou aceita.
Meus sapatos foram feitos à mão.
Mas, quando saio da Igreja,
conheço o abismo e a queda.
Uma queda cheia de ternura,
uma queda de sombra e loucura.
Se o Senhor me ama, Pai,
então, me console nessa queda.
Eu não quero mais dançar no abismo,
eu não quero mais oscilar entre o choro e o riso.
Assim como Perséfone enfrenta o submundo,
passo metade do tempo na luz mais forte,
e a outra metade mergulhada no sono profundo.
Na primavera, sou flor e, na queda, beijo noturno.
Amo a luz, mas amo a escuridão.
Amo a queda e amo a elevação.
Sou apaixonada pela iluminação,
mas Hades vive no meu coração.
Na queda, ganho sabedoria e beleza,
graça, maturidade e asas de borboleta.
Na queda, lágrimas viram diamantes.
Na queda, sou terna e deslumbrante.
Poesia escrita por Tatyana Casarino.
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